sábado, dezembro 17, 2005

Atualização

Leia, Leia.
  • Torpor - overdose sem contra-indicações.

Clica e Vai

Profeta

Os dois últimos textos eram aquecimento para outros dois a respeito de um artigo que o filho do Sr. Ênio Mainardi escreveu na Veja. Mas as respostas de Alberto Dines e a repercussão do artigo foram publicadas no Observatório da Imprensa e por isso não há nada a acrescentar, salvo os links (edições de 29/11 e 06/12).
As entrevistas citadas no texto anterior não estão relacionadas à entrevista concedida por Mino Carta à Caros Amigos deste mês. Talvez meus poderes proféticos estão saindo do controle.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Do baú

Em novembro de 2000, a extinta revista República trouxe uma entrevista com Mino Carta por ocasião do lançamento de seu livro O Castelo de Âmbar. Como sempre, Mino desfechou ataques ferinos aos barões da imprensa brasileira.

"Como não tenho raiva do velho Frias (Octávio Frias de Oliveira, da Folha de S. Paulo), colaborei com a Folha em duas oportunidades, e ele sempre teve comigo um comportamento impecável. Tenho problema com o Otavinho (Otávio Frias Filho) porque o Otavinho é uma besta, um ser subdoloso e eventualmente mau. São tantos recalques nele que ele pode ser muito mau."

Frias Filho se manifestou sobre a frase e, na mesma edição, o trecho da matéria que introduzia a entrevista trazia o seguinte comentário dele: "Não tenho respeito moral nem intelectual por Mino Carta, que considero uma mediocridade emplumada. A obsessão desse sujeito comigo é assunto para psiquiatras".

Na edição de dezembro de 2000 da também extinta(mas essa infelizmente) Bundas, Mino Carta concedeu uma entrevista na qual explica que a origem de seus problemas com Frias Filho se deu em uma mesa redonda da SBPC da qual participaram, quinze anos antes. Ele afirmara que um dos problemas do jornalismo brasileiro era a presença de diretores de redação por direito divino. Segundo ele, não teve a intenção de ofender Frias Filho, mas apenas chamar a atenção para uma prática brasileira que não existia na imprensa de nenhum outro lugar do mundo.

Tempo depois, Frias Filho publicou um artigo afirmando que Mino tinha algum "problema psiquiátrico". Mino respondeu em o Diário do Grande ABC, mas seu artigo foi censurado. Conta ele:

"Tendo a crer que o foi por causa do senhor Otavinho. Eles devem ter ligado para ele, como fizeram agora meus entrevistadores na revista República. Quando se fala de caras da comunicação, eles ligam. Eu já vi entrevistas que tinha resposta na edição seguinte. Lógico, evidente. Mas contemporaneamente? Eu dei a resposta e eles ligaram e perguntaram: 'Otavinho, o que você tem a dizer a respeito?'

Procuraram o Roberto Civita (*), que disse uma besteira qualquer. Agora o outro, não. Voltou à carga e disse que 'não tem respeito intelectual nem moral' por mim, que eu sou um 'intelectual emplumado'. Acho que quanto ao respeito intelectual ele tem toda a razão, eu mereço isso. Agora moral? Não dá.

Ziraldo [provocando]: Pois é, mas você falou que ele era uma besta.

Mino: Mas não uma besta porque ele seja um cretino. Não acho que ele seja um cretino. Falei uma besta, assim, como quando a gente diz [largado, espontâneo] 'aquele cara é uma besta!' Mas é um cara que dá nota todo mês aos repórteres, e afixa num quadro. É de uma maldade sublime. Todos os rapazes que chegam perto dele e galgam postos, e tal, ele acaba devorando. Todos, todos."

(*) Roberto Civita também é citado na entrevista de República.


Cartilha

A matéria da Folha (gentilmente publicado por ela) é prova da ignorância que boa parte dos jornalistas têm a respeito da própria atividade. Em 2002, apenas a Carta Capital e OESP declararam abertamente a quem apoiariam na corrida presidencial (Lula e Serra, respectivamente). Vontade manifestada em editorial. Qual o problema? Delito de opinião? O leitor tem o direito de saber em quem o veículo vota por uma questão de honestidade. Isso que constitui novidade por aqui já é praxe na imprensa norte-americana, lembrada por nossos jornalistas a cada quinze minutos como modelo de bom jornalismo.
Reportagem e cobertura devem procurar o mínimo de imparcialidade. Os editoriais e artigos assinados nunca. Deve ter isso na Caminho Suave do jornalismo.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Insone

Todo mundo sabia que o Zé Dirceu não iria escapar da cassação, por isso acompanhar o processo e a votação na Câmara também era uma medida protocolar. Ouvir a transmissão da CBN, na verdade, era apenas uma forma infálivel de pegar no sono.
Lucia Hippolito, porém, frustou todos os meus planos ao repetir algumas vezes a palavra qüestão durante a cobertura. Quem consegue pregar os olhos sabendo que tremas saltaram das caixas acústicas e se esconderam em algum lugar da sala?

segunda-feira, novembro 28, 2005

Apelo

Dalton Trevisan

Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.
Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.

quarta-feira, novembro 23, 2005

Professor procura II

O Estadão de 13/11 publicou uma entrevista em página dupla com o prefeito José Serra. Não havia comentado a entrevista até agora porque tomei conhecimento dela hoje. Perdeu um pouco da graça tecer qualquer consideração a respeito da entrevista. Via de regra, as entrevistas com políticos estão padronizadas no "levanta que eu corto". Por que não fazem auto-entrevista de uma vez?
A diversão mesmo ficou por conta do box com uma frase "Quero a volta do ensino da taboada". Nele, lemos que o prefeito adotou uma "atitude inusitada": uma vez por semana o prefeito comparece a uma escola pública para ensinar a criançada. Segundo o prefeito, além de ser uma atividade relaxante, ele pode acompanhar melhor os dramas da educação brasileira. Trabalho de campo diletante.
Segundo a reportagem, o prefeito ensina Matemática para crianças da terceira e quarta série do ensino fundamental. Ele distribui palitos de fósforo para cada aluno e pergunta qual o time de futebol de sua preferência, reunindo essa informação para ensinar gráficos e tabelas para a turma.
Minha imaginação pedagógica não alçou os mesmos vôos e não entendi que papel cumpririam os fósforos naquela aula. A reportagem talvez por considerar sua função óbvia demais não explicou a razão deles estarem ali. Apesar da minha imaginação pedagógica deficiente, acho arriscado brincar com a imaginação de crianças munidas com fósforos, haja visto o que algumas delas esperam da escola. Melhor tentar com giz.

terça-feira, novembro 22, 2005

Professor procura

A diferença entre desocupado e desempregado é que o segundo não é remunerado e dificilmente consegue construir patrimônio nessa profissão. Como para se tornar um desocupado deve-se primeiro arranjar uma ocupação para depois ignorá-la, final de ano é época de imprimir currículo em tiragem de jornal e sair por aí batendo porta de colégio. Somos pessoas em busca das instituições. Ao contrário dos xerifes de faroeste americano, nós colamos os cartazes nos postes com a frase Procurando.
Ser professor é a segunda coisa que sei fazer melhor na vida (a primeira é jogar dominó). Gosto da profissão. Chatos são os professores. O número de xícaras numa sala de professores explica-se pela quantidade de pessoas com a profundidade de pires que circulam por lá. Está aí S. que não me deixa mentir.
Por falar em S. , já que andamos estabelecendo novos contatos no orkut, meu atual hobby é visitar comunidades dedicadas aos professores e discussões sobre a docência. E descobri que não existe uma comunidade chamada Pérolas dos Professores. Uma pena.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Desculpas

A crônica do Verissimo abaixo foi publicada domingo passado. Embora ele tenha acertado alguns palpites recentemente, não tem a ver com o jogo de ontem. Ou não só.
E esse também é meu covarde pedido de desculpas pela ausência nas últimas semanas.
Comprados
"O Tatu tá comprado." A frase percorreu o vestiário, dita baixinho, antes do time entrar em campo. Significava que o goleiro do time adversário tinha concordado em facilitar a entrada da bola no seu gol mediante uma compensação financeira. Ou, resumindo: o Tatu tava comprado. Bastava chutarem contra o gol do Tatu, de qualquer distância, que o Tatu aceitaria. O jogo estava ganho.
Como o jogo estava ganho, o pessoal relaxou. Não só não chutou nenhuma bola, de qualquer distância, contra o gol do Tatu, como levou dois gols, em poucos minutos, do adversário. Aliás, gols estranhíssimos. Que provocaram uma suspeita: assim como o goleiro do outro time tinha sido subornado, o deles também poderia ter sido. O Valmor também tava comprado! Começaram a pressionar, para diminuir a diferença. Chutaram quatro bolas contra o gol do Tatu. Duas foram para fora, uma bateu na trave e a outra o Tatu defendeu sem querer. Enquanto isso, o Valmor deixava passar outra bola pelo meio das pernas. Três a zero para o adversário. O jogo estava quase perdido.
No vestiário, no intervalo, o Valmor reagiu com violência à insinuação de que estava comprado só porque deixara passar três bolas pelo meio das pernas. Se estivesse comprado, falharia de modo tão evidente, para não deixar dúvidas? Podia ser ruim, mas não era burro, e muito menos desonesto. O argumento do Valmor foi aceito, todos se desculparam por terem desconfiado dele, e ele foi substituído pelo Nono, que tinha sido comprado e prometera 10% do que ganharia ao Valmor por provocar sua própria substituição.
O técnico Bentinho puxou o centroavante Ramiro para um lado. Iam mudar de tática. Em vez de chutar contra o gol do Tatu de qualquer distância, o Ramiro deveria tentar entrar na área a drible. Assim daria oportunidade ao Tatu de sair do gol e derrubá-lo. Pênalti. Quatro pênaltis como aquele e o jogo estava ganho.
A ordem era: bola para o Ramiro. Para ele entrar na área a drible e ser derrubado pelo Tatu. Mas o Ramiro recebia a bola e a devolvia. Ou pegava a bola na entrada da área e, em vez de arrancar para o gol, recuava. O Bentinho aos berros: "Entra na área! Entra na área!" O Tatu aos berros: "Entra na área! Entra na área!" E o Ramiro recuando, passando para os lados, fazendo tudo menos entrar na área para sofrer o pênalti. O Tatu ficou tão impaciente que a certa altura saiu do gol e foi derrubar o Ramiro lá na intermediária. Não era pênalti, mas funcionou. Quem bateu a falta chutou fraco mas acertou o gol, o Tatu fingiu fazer golpe de vista e a bola entrou no canto, três a um. Cinco minutos depois a defesa atrasou uma bola para o Tatu, que a deixou passar. Três a dois. Só faltava o Ramiro entrar na área e sofrer um pênalti e o jogo estava ganho.
Desde que o Nono, comprado, não aceitasse nenhum gol do adversário. Nono aceitou, duas bolas chutadas de longe, mas nos dois casos o bandeirinha daquele lado, que também tava comprado, deu impedimento. Ramiro se surpreendeu ao ouvir o juiz lhe dizer, num cochicho "Entra na área! Entra na área!" Ele não podia entrar na área e sofrer o pênalti. Estava comprado. Mas qual era a do juiz? O juiz: "Entra na área ou eu te expulso!" Bentinho de fora do campo: "Entra na área ou eu te arrebento!" Tatu, do gol: "Entra na área ou eu vou aí te quebrar!" O Ramiro não sabia o que fazer.
Ramiro entrou na área. Quando o Tatu saiu do gol e quis derrubá-lo, pulou por cima do Tatu e chutou para fora. Mas o juiz deu o pênalti assim mesmo! Também tava comprado. Ramiro fingiu que tinha se machucado para não precisar chutar. Quem chutou foi o Massaroca. Para fora. Também estava comprado. Mas o juiz mandou bater de novo. O Massaroca errou de novo. O juiz mandou repetir. O Massaroca caiu no chão, simulando uma síncope. Grande confusão. Massaroca retirado do campo. Chegou correndo o Nono, gritando: "Deixa que eu bato!" Chutou fraco e em cima do Tatu, que foi obrigado a pegar. Mas ao fingir que ia repor a bola em jogo, Tatu deixou-a cair dentro do gol. Três a três. Bom para todo o mundo. O bandeirinha daquele lado ainda quis insistir que havia irregularidades: no lance, invasão da área pelo time atacante, o Ramiro dando uma voadora no juiz, os padioleiros, que estavam comprados, despejando o Massaroca no chão só de raiva, etc. Mas ninguém lhe deu atenção. O empate estava bom. Era só o que faltava, um honesto querendo estragar tudo. O juiz apitou. Mesmo faltando 15 minutos, o jogo estava encerrado.

quarta-feira, novembro 09, 2005

Pobre Marianne

Os distúrbios na França que já ameaçam se espalhar para outros países da Europa lembram aquela história nada edificante do marido que não sabe porque bate na Marianne, mas ela sabe porque está apanhando.
As declarações de Nicolas Sarkozy após a morte dos dois jovens e dos primeiros incidentes agravaram o quadro dos distúrbios ocorridos na França na última semana, mas o ministro não pode ser o único responsabilizado pela sua falta de jeito. Dialogar com "a gentalha" não é o forte da "ordem republicana" francesa já há algum tempo.
O pacote econonômico apresentado pelo governo para melhorar a vida nos bolsões de pobreza mostra a distância entre o discurso integracionista e a realidade dos jovens da periferia, imigrantes em sua maioria, que se revoltaram por serem sistematicamente ignorados pela "republicana" e constantemente maltratados pela "ordem".
E como lembrou Gilles Lapouge em artigo no Estado, o estado de emergência decretado pelo primeiro-ministro Dominique de Villepin só foi aplicado uma vez, durante a Guerra da Argélia, o que representa uma péssima evocação. Principalmente porque pode levar ao acirramento dos ânimos entre os radicais dos dois lados. Mas os maníacos liderados por Le Pen tem chances reais de chegar ao poder.

domingo, novembro 06, 2005

PSN

Senadora Heloísa Helena, senador Artur Virgílio e deputado ACM Neto,
venho por meio desta esclarecer a Vossas Excelências que o PSN (Partido dos Sem-Noção) assim como seu presidente de honra, o personagem Joselito, são peças de ficção de autoria da dupla Hermes & Renato.
Dessa forma, as ameaças à integridade física do Excelentíssimo Sr. Presidente da República não implicam em filiação automática de Vossas Excelências a uma agremiação política que não possui registro oficial.
Acredito ainda que uma filiação honoris causa pode ser sugerida aos criadores da atração.
Atenciosamente.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Bem-vindo

Felipe,
desculpe o despreparo, mas ninguém esperava pela sua chegada ontem. Para você ter uma idéia, recebi a notícia enquanto bebia cerveja e jogava sinuca num boteco. Bom sinal.
Por falar nisso, ontem também, o Inter perdeu o jogo e isso significa que, apesar da derrota para o Cruzeiro, o Corinthians continua com seis pontos de vantagem. Ufa! Vá se acostumando a passar apuro com esse time.
Charles Bronson e Betinho também nasceram num dia 03 de novembro. Ou seja, o dia de seu nascimento não deve definir qualquer traço de sua personalidade. Fique tranqüilo.
Acho que vamos nos dar muito bem. Daremos boas risadas.
Mas está tarde, você teve um dia díficil, estamos cansados... é melhor irmos dormir.
Boa noite, meu querido sobrinho.

segunda-feira, outubro 31, 2005

Passe adiante


[charge de Maringoni para o site da Agência Carta Maior]

domingo, outubro 30, 2005

O momento oportuno

Sou incapaz de elaborar uma lista de dez livros mais marcantes. Porque se não chegarem a dez, passo por ignorante e se ultrapassarem dez, parecerei um esnobe. No fundo, não quero escolher os dez e me arrepender uma semana depois quando o estrago estiver feito.

- Sidney Sheldon?

- Eu posso explicar.

- Credo!

* * *

Memórias Póstumas de Brás Cubas certamente entraria para a lista. As inovações e o fino humor machadiano esculpiram capítulos antológicos como O Velho Diálogo de Adão e Eva. Ou como o capítulo seguinte intitulado O Momento Oportuno, no qual Brás Cubas se pergunta o porquê de seu caso com Virgília não ter vingado da primeira vez e anos depois estarem apaixonados. Uma vez que não aparentavam diferenças substanciais em relação ao que foram, ele deduz que aquele se tratava do momento oportuno. Afinal, a oportunidade também faz o amor.

De forma análoga, nesse final de semana corre uma história contada por dois ex-assessores, um dos quais já havia envolvido membros do governo em outras denúncias, recheada de acusações contra um partido, um governo e um país estrangeiro pelos quais nunca se nutriu qualquer simpatia, publicada pelo semanário ícone da responsabilidade e ética jornalísticas na mesma semana em que a oposição desceu do salto e declarou guerra aberta ao governo.

Não apenas "parece verossímil" como também muito oportuno.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Desaforos

Sabe aquele coronel reformado que morava na sua rua, na casa cujas janelas eram os alvos involuntários das bolas de futebol da criançada? O que distribuía impropérios contra os jovens audaciosos que pulavam o muro atrás da pelota e ameaçava atirar, soltar os cachorros ou chamar a polícia? Aquele que quando alcançava a bola invariavelmente dava um fim nela? Lembra que mesmo nos poucos dias em que não havia mais bola para a molecada chutar, as janelas da casa dele continuavam misteriosamente se quebrando?

segunda-feira, outubro 24, 2005

Inculta e só II

Já que a desculpa era a comunicação na Internet, a prefeitura poderia ter economizado em caracteres e conquistado a simpatia dos adolescentes mudando o nome da cidade para Fox du Iguaxu. Coerência, gente!

Manchetes

OESP: Maioria dos brasileiros diz 'não' à proibição das armas
FSP: Brasil não proíbe venda de armas
DSP: País rejeita proibir comércio de armas
JT: Maioria escolhe o 'não'
O Globo: Por um Brasil com armas
JB: Recado do medo e da descrença
O Dia: Sem segurança, brasileiro aprova compra de armas
CB: E o povo disse "NÃO"
ZH: A vitória do 'não'
*TFV: Fezes!

sexta-feira, outubro 21, 2005

Inculta e só

Mário Lago disse certa vez que a letra x era inútil e defendia sua abolição da língua portuguesa. Segundo ele, como a letra x não tem som nenhum, as palavras grafadas com x poderiam ser substituídas por outras letras, acabando com as dúvidas e erros tão freqüentes. Levaria um tempo para nos acostumarmos com 'ezame', 'chícara', 'tóracs', 'esperiência' e 'mássimo', mas tudo pelo bem de nossas crianças.
Maior que o bom humor e o requinte de Mário Lago no trato com a língua apenas a estupidez da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu que nessa semana aprovou a mudança do nome para Foz do Iguassu. Os autores do atentado querem facilitar a comunicação virtual da cidade e aumentar seu potencial turístico porque, como se sabe, endereços de páginas na internet não aceitam acentos e cedilhas e com a medida evitam o constrangimento de escrever a palavra 'Iguacu' em correspondências eletrônicas oficiais.
O sociólogo José de Sousa Martins explicou para a reportagem de OESP que o sufixo tupi 'açu' significa grande, Iguaçu significa rio grande e Iguassu não quer dizer nada. 'Iguacu' também não. Mas entre o desconforto de um problema menor e o predomínio da ignorância absoluta, a segunda ganhou por 8 votos a 4.

quinta-feira, outubro 20, 2005

Retóricas

Em O Grande Ditador de Chaplin, no encontro entre Hynkel e Napoloni há uma cena famosa em que os dois aparecem sentados lado a lado procurando uma posição superior em relação ao outro através das alavancas das cadeiras. Para demonstrar sua força e olhar o adversário de cima, os dois apostam uma espécie de corrida. Não lembro como a cena termina, mas certamente não era com uma discussão a respeito da legitimidade do poder.
Saddam Hussein perdeu o poder, mas não perdeu a retórica e isso conta muito no tribunal. Entretanto, questionar a legitimidade do julgamento é uma medida inútil, principalmente porque do outro lado existe a retórica do poder atual. E o poder, como ele deveria saber, é sempre o poder.

"Cidadão de bem"

Ninguém agüenta mais e sei que corro o risco de tomar um pipoco (2005 é o ano do vocabulário!) insistindo nesse assunto de desarmamento. Mas o texto de Túlio Vianna no correio Caros Amigos esclarece uma dúvida antiga: o que é um cidadão-de-bem? Como ele se comporta? Etc, etc.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Revistas de História 2

Meio desmentido. A história está ficando boa. Continuaremos acompanhando.

"O ex-presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Pedro Corrêa do Lago, entregou ao Ministério Público Federal (MPF) documentos que, segundo ele, comprovam que a Livraria Corrêa do Lago renunciou ao pedido de registro da marca da revistaNossa História em outubro de 2002, portanto antes de assumir o cargo, no início de 2003. Assim, diferentemente do que o Estado afirmou em sua edição de ontem, sua empresa nunca editou a revista, que é publicada pela Editora Vera Cruz desde 2003.
'Renunciei ao nome muito antes de ser convidado para o cargo', afirmou Lago. 'A revista foi feita por um conselho editorial com os mais renomados historiadores, precisávamos apenas de um parceiro comercial, que foi a Vera Cruz. Como eles também haviam entrado com o pedido, renunciei ao nome', disse. 'E o fato de registrar o nome não me dá nenhum benefício pessoal.'
'Por causa da morosidade do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, meu pedido de cancelamento das marcas não está ainda disponível no seu site e a ação foi feita baseada nessa omissão. Já entreguei ao procurador todos os comprovantes dos pedidos de cancelamento dos nomes àquela época', informou.Ele disse que se afastou do cargo 'por razões pessoais' e a decisão já havia sido comunicada ao ministro da Cultura, Gilberto Gil, fazia dois meses."

terça-feira, outubro 18, 2005

Revistas de História

Para os leitores que se perguntam quais os motivos da separação entre a Fundação da Biblioteca Nacional e a Editora Vera Cruz que publicavam a revista Nossa História, segue uma pequena explicação que envolve as mudanças na própria Biblioteca Nacional, cuja presidência será ocupada pelo escritor e professor da UFRJ, Muniz Sodré:
(nota publicada em OESP, hoje)
Por enquanto, Muniz Sodré se recusa a comentar se vai abrir auditoria para investigar a gestão de seu antecessor, o bibliófilo e editor Pedro Corrêa do Lago.
Corrêa do Lago pediu demissão há dez dias, depois que o Ministério Público Federal (MPF) abriu contra ele ação por improbidade administrativa. Sua editora, a Livraria Corrêa do Lago, faz a revista Nossa História, que desde 2003 usava com fins lucrativos o acervo da biblioteca sem nenhuma retribuição à FBN.
Outro episódio que contribuiu para o pedido de demissão foi o furto de 150 fotografias raras - só 20 foram recuperadas. Segundo a Polícia Federal, os ladrões eram especialistas no assunto e tiveram acesso à biblioteca durante a greve dos servidores do Ministério da Cultura, entre 4 de abril e 12 de julho.

segunda-feira, outubro 17, 2005

Medo, medo

Com todos os perigos ameaçando a vida dos brasileiros (os bandidos, o MST, o comunismo, os bovinos exaltados, os frangos que espirram, etc), se a vitória do não se confirmar no referendo de domingo, todos nós, cidadãos de bem, deveríamos correr até a loja mais próxima e adquirir nosso berro.

domingo, outubro 16, 2005

Dia das crianças

Mais uma candidata a notícia do ano.

Alguma pergunta?

Feliz Dia dos Professores.

terça-feira, outubro 11, 2005

Cobradores

Precisamos arranjar uma nova função para os cobradores de ônibus da capital. Rápido. Fazer o troco e conhecer o itinerário da linha não servem. Com o bilhete único, o primeiro eles não fazem mais. O segundo, eles nunca souberam informar, não adianta. Outras.
Ainda na última gestão, a prefeitura sugeriu transformá-los em uma espécie de comissários de bordo, que comercializariam jornais e guloseimas durante o trajeto. A idéia, além de risível, se concretizada, acirraria os ânimos entre os vendedores ambulantes que costumam freqüentar os ônibus e fatalmente nos levaria para uma guerra civil de proporções desastrosas.
Não foi Boccaccio que quando estava na pior foi contratado pelo governo de Florença para recitar os versos de Dante pelas ruas? Os cobradores poderiam recitar poesia, ler trechos de romances e em pouco tempo teríamos uma revolução cultural na cidade. O inconveniente estaria na escolha dos títulos e, tomando por base o tipo de leitura que domina os meios de transporte da cidade, logo teríamos uma conversão em massa. Ou outra guerra, dessa vez religiosa. Melhor não.
Música também não é uma boa saída pelos mesmos motivos: escolha do repertório. E correríamos o risco de presenciar situações terrivelmente constrangedoras.
– Vamos lá! Todo mundo, mãozinha pra cima. Eu perdi o meu medo, o meu medo, o meu medo da chuva...
Uma razoável: ouvidor de ônibus. Ao invés da caixa, um balcão com canetas e formulários. Todas as reclamações sobre qualidade do serviço, o tempo de espera no ponto, a conservação do ônibus, a educação do motorista, entre outras queixas, seriam devidamente anotadas pelo ouvidor, assinadas pelo passageiro, que receberia uma cópia, e encaminhadas para a SPTrans, já que aquele telefone está sempre ocupado!

sexta-feira, outubro 07, 2005

Plebiscito II

Os melhores artigos sobre o plebiscito até agora. Clica e vai.

quinta-feira, outubro 06, 2005

Entrevistas

Gilberto Gil, no Estadão de ontem.
O que o sr. achou da carta da professora Marilena Chauí aos seus alunos,na qual ela comentava achar difícil transmitir idéias e opiniões por meio da mídia?
Gostei muito. Achei interessante. Eu já vinha acompanhando, fui ao seminário que ela abriu, O Silêncio dos Intelectuais, acompanhei depois as reações. Acho que ela faz uma advertência muito pertinente da questão da falta de espaço, na mídia, para a visão pluralista, para os pequenos fragmentos. A grande mídia é um grande negócio, como todo grande negócio. Apesar de seu compromisso em informar e abastecer a opinião pública com os fatos, ela está enredada numa grande rede de interesses. Tem dificuldades, como o governo também tem. Porque a mídia seria um setor indiscutível? É preciso discutir tudo.
A atuação ou os critérios da mídia?
Atuação não depende dos critérios? E os critérios não dependem da atuação? É um setor como outro. Agora, tem essa dificuldade de autocrítica. Você vê, na própria pergunta que você me faz, tem um compromisso inercial seu, de seu jornal, de explorar uma tensão que parece mais explorável. Por isso acho interessante essa coisa que a Marilena fala, de quererem obrigar o silêncio dela a falar.
* * *
Na matéria exibida agorinha no Jornal da Globo, Christiane Pelajo entrevistou o Verissimo em Paris. Entre as amenidades a respeito de Paris e da França, uma pergunta sobre a crise política. Enfim, uma reles conversa com um simples escritor numa cidade comum para gente normal morrer de inveja.

segunda-feira, outubro 03, 2005

Plebiscito

Não

Para os partidários do ‘não’, manter o 38 em cima do guarda-roupa é um exemplo de luta pelas liberdades civis de mesma grandeza que as passeatas da campanha Diretas-Já. Se o ‘não’ vencer, teremos o salvo-conduto de lutar pelas liberdades civis à bala.
Os argumentos também alimentam a luta de classes ao afirmar que os artistas são favoráveis ao desarmamento porque vivem nos condomínios de luxo em segurança, enquanto o restante da população enfrenta a violência cotidiana sem proteção.
Devemos prestar mais atenção nos argumentos do ‘não’ e em seu potencial revolucionário.

Sim

O programa do ‘sim’ parece o Criança-Esperança.

Nulo

O discurso de ambos é tão apelativo que chega a ser constrangedor. Deve ser a falta de costume. Plebiscito é coisa nova por aqui.

quinta-feira, setembro 29, 2005

Duas

Respiro
Com a eleição de Aldo Rebelo para a presidência da Câmara dos Deputados, PSDB e PFL aprenderam uma lição há muito aprendida pelo PT: quando um governo está de joelhos, já deu o primeiro passo para a realização de um milagre.
Obrigação
(para Frida Helena - aniversariante da semana)
Atormentar dirigente de futebol não é chutar cachorro morto. Esse tipo de cachorro é bem vivo. Vamos chamar de civismo.

segunda-feira, setembro 26, 2005

Cutucando

Para Márcio Braga presidente do Flamengo, um histórico sumário da carreira do desconhecido Carlos Tevez, 21 anos, atacante do Corinthians:

  1. 4 títulos em pouco mais de 3 anos atuando pelo Boca Juniors: torneio Abertura (campeonato argentino), Taça Libertadores da América, Copa Intercontinental (todos em 2003) e a Copa Sudamericana (2004);
  2. Integrante das seleções juvenis da Argentina desde os 15 anos; conquistou o Sulamericano Sub-20 em 2003;
  3. Na seleção principal de seu país, conquistou o Pré-Olímpico do Chile; a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de Atenas (2004) e artilheiro da competição com 8 gols;
  4. Vice-campeão da Copa América realizada no Peru;


Esses dados são conhecidos por interessados, amantes ou especialistas em futebol. Como não é o caso de Márcio Braga, está perdoado.

terça-feira, setembro 20, 2005

Ingratidão

Os depoentes e deputados têm castigado a língua portuguesa nos depoimentos, pronunciamentos e entrevistas concedidas nos últimos meses. Mas enquanto prestamos atenção na concordância nominal e verbal e outras ortodoxias mesquinhas, deixamos de reconhecer o zelo com que procuram ampliar nosso vocabulário.
Quantas vezes você já tinha ouvido a palavra ilação na sua vida? E a conjugação do verbo repelir em primeira pessoa do singular no Presente do Indicativo? Proxenetas? E em horário nobre!
* * *
(do Dicionário Barsa da Língua Portuguesa)
Inquerir: v. tr. dir. Apertar a carga dos animais; arrochar.
Inquirir: v. 1. Tr. dir e tr. ind. Indagar, perguntar; pedir informações sobre, pesquisar. 2. Tr. dir. Interrogar judicialmente (testemunhas). 3. Intr. Tomar informações.
Não é nada, não. É que talvez o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) não saiba a diferença.

quinta-feira, setembro 15, 2005

Confete

Gostaria de agradecer a Renata por todas as sugestões, comentários e o suporte nas modificações sofridas pelo Tutti Funghi e agora também no Quase Dois Irmãos (em parceria com o ilustríssimo Zé).
Ela é indiretamente responsável por parte das boas risadas desse interminável 2005.
Muito obrigado!
E palmas pra ela!

quarta-feira, setembro 14, 2005

Curtas

Decisão difícil

A Câmara pode, ao selar o destino político de Roberto Jefferson, dar impulso a uma nova carreira artística. Se perder o mandato hoje, o deputado promete virar cantor. Independente do que ocorrer, já sabemos quem perde.

Très chic
Novo produto da pauta de exportações brasileiras: vocabulário.

Pour avoir trop “malufé”, les Maluf sont et prison
(manchete do Le Monde, dia 13.09.2005)

terça-feira, setembro 06, 2005

Intensivão

Acompanhar a tragédia do Katrina pela imprensa equivale a um mini-curso de história dos Estados Unidos. As diferenças sociais e raciais, o papel das autoridades, o caráter épico-religioso, a excepcionalidade e outras características da história e da sociedade estadunidense escorrem pelos dedos na leitura do jornal.
Antes da catástrofe, obedientes cidadãos atenderam prontamente aos apelos das autoridades e saíram das cidades prestes a serem atingidas pelo furacão. Aqueles que não deixaram suas casas, pessoas pobres que não tinham dinheiro ou para onde ir, foram consideradas imprudentes. Em meio a destruição, os brancos procuravam alimentos para saciar a fome; os negros saqueavam os supermercados. Um Estado inepto decretava lei marcial para conter a barbárie enquanto oferecia alojamentos sub-humanos para os sobreviventes. Depois que o prefeito exigiu ação, o prestimoso presidente ofereceu cifras astronômicas. Agora, ao passo que os desafortunados fogem, os heróis retornam do dramático êxodo. Ou como escreveria Mino Carta, perdão, Êxodo.

quinta-feira, setembro 01, 2005

Sobre Chaui

Trecho
O artigo de Sérgio Augusto, publicado no caderno Aliás do Estadão do último domingo, merecia citação na íntegra. Mas por falta de espaço, seguem apenas os dois últimos parágrafos:

“Nem sequer ao longo das conferências de Chaui a crise do PT foi deixada no freezer. Sutis alusões ao presente, só não percebidas pelas mentes rombudas, enriqueceram seu paralelismo entre Sartre e Merleau-Ponty. Para publicações à cata de declarações bombásticas, nada mais decepcionante do que ouvir uma intelectual falar de forma alusiva (Montesquieu não fez isso?) e reivindicar seu direito ao silêncio enquanto nada de original tem a dizer. Chaui não quer dar opiniões, tão-somente, mas oferecer uma análise à altura de uma pensadora, tarefa que requer serenidade e uma compreensão menos lacunar do que está acontecendo.
Ela, a rigor, não fugiu da raia, não calou o bico. Questionou o 'erro de timing' do governo, a escolha de prioridades erradas e as alianças espúrias a que se submeteu. Deixou claro que, enquanto não houver reforma política, 'continuaremos gritando contra a corrupção e o mau-caratismo dos políticos, mas não resolverá nada'.Falou mais e melhor do que falaria, por exemplo, a atriz Maitê Proença, a 'filósofa' de plantão da Época.”
Música
Chico Buarque disse semana passada que não pretende compor um samba para o mensalão. Para ninguém acusá-lo de silenciar sobre a crise, apresento uma modesta contribuição.
Geni e o Zepelim (versão funghi/2005).
Joga pedra na Chaui
Joga pedra na Chaui
Ela quer filosofar
Ninguém está disposto a ouvir.
Ela vota no PT
Maldita Chaui

Má vontade

Na última terça-feira, o programa Observatório de Imprensa analisou o papel dos blogs na cobertura da crise política. Elogios para a revolução que os blogs trouxeram à parte, há um certo receio de que eles possam substituir as tradicionais matérias jornalísticas. Segundo alguns debatedores, os blogs levam vantagem porque são mais ágeis na apuração dos fatos e tem um alcance maior, além de permitirem a participação imediata do leitor. Tudo que os jornais deveriam fazer.
A falta de credibilidade da imprensa explica tal receio e a comparação entre meios qualitativamente distintos é a mais completa constatação da tragédia. Qualquer maníaco conectado à rede pode fazer um blog jornalístico, inventar notícias, dar furos e espalhar boatos; nada muito diferente do modelo jornalístico predominante no Brasil. O blogueiro ainda tem em comum com muitos jornalistas o fato de não precisar abandonar seu computador para publicar os textos. Como ninguém apura nada e o ar-condicionado das redações impede o trabalho duro, muitos jornalistas transformaram-se em blogueiros de luxo.
Entretanto, autocrítica não é o esporte preferido da categoria. Muitos recalcados decidiram apontar os canhões para outro lado, pegando carona no ciclo de debates sobre o “silêncio dos intelectuais”. Os intelectuais continuam falando, escrevendo e atuando. Ainda têm menos espaço e são minoria pois para cada Marilena Chaui temos cinco ou seis articulistas superestimados, deslumbrados e semi-alfabetizados. Agora que culpa têm os intelectuais se os jornalistas não sabem ler?

terça-feira, agosto 30, 2005

Anos 80

1) Quem diria, José Sarney defendendo o governo Lula em discurso no Senado? Ninguém pode acusá-lo de traição, muito pelo contrário, afinal, conservadores e progressistas nunca tiveram problemas de convivência por aqui. E como celebrar os anos 80 virou moda, tivesse ele iniciado seu discurso com “brasileiros e brasileiras”, teríamos chegado ao auge da onda nostálgica no Brasil.

2) Os EUA também são assombrados pelos anos 80. Semana passada, o televangelista Pat Robertson, outro ícone da época, defendeu o assassinato de Hugo Chávez. Relembrando a maneira Ronald Reagan de resolver conflitos e o atual modelo Bush Jr., Robertson acrescentou ainda que a Venezuela de Chávez transformou-se em “base de lançamento para a infiltração comunista e do extremismo islâmico”.

3) "Porque a gente vai se ver livre dessa raça, por, pelo menos, 30 anos" – o “encantado” senador Jorge Bornhausen, relembrando um estilo da época, provavelmente de bacamarte na mão.

4) Tempo estranho o nosso em que as pessoas suspiram pensando em como era feliz uma época conhecida por “década perdida”.

Justiça

Já passou da hora de Duas Fridas entrar para o Leia, Leia.

segunda-feira, agosto 29, 2005

"Criança diz cada uma - volume 2"

Esses textos deveriam constar de um livro em homenagem a Pedro Bloch:

Brincar de viagem

Enquete

Kellen: Nini, qual comida você mais gosta?
Nicole*: Chiclete!
Kellen: Não, eu disse COMIDA...
Nicole: Pirulito!

*Nicole: minha sincera priminha de 10 anos.


Duas Fridas

Proto-feminista

Minha mãe iniciou a neta nos mistérios religiosos: foi ela quem apresentou papai do céu à minha filha, mostrou a imagem de Nossa Senhora, ensinou a fazer o sinal da cruz. A Júlia, por sua vez, também tem suas lições. Por insistência dela, agora a avó reza:
''Em nome do Pai, da Mãe, do filho e do Espírito Santo, amém.''

Helena Costa

sexta-feira, agosto 26, 2005

Gota d'água III

Agora me dei conta que o título dos textos anteriores é o mesmo da música do Chico Buarque, coincidência ou não, outro que anda sendo cobrado por seu apoio histórico ao PT.

Gota d'água II

Uma chave para entender a má vontade para com o Verissimo é lembrar que ele já era um cronista consagrado quando o tucanato chegou ao poder. Admitiu modestamente em entrevista que suas posições políticas alcançaram notoriedade apenas porque criticava Fernando Henrique quando todo mundo estava a favor.
Como ele tinha razão, ninguém encheu muito. Mas a raiva não passou.
* * *
"Já disse que não aceito minha indicação para presidente da República, se convocado não concorrerei, se concorrer não farei campanha, se ganhar não tomarei posse, e se tomar posse farei um festão... Mas, por via das dúvidas, tenho observado o comportamento de pessoas para um eventual aproveitamento no meu governo. Li na Veja que o Éfe Agá não me lê. Não será mais meu embaixador em Portugal. E, para o tempo que ele ganha não me lendo, sugiro que leia um autor que ambos admiramos: Fernando Henrique Cardoso. Vi também que o Roberto Campos me lê, me acha ridículo, mas gosta. Ministério do Bem-Estar Social."
(LFV, 12.09.95)
* * *
Reconheçamos, parecer mais execrável que o Roberto Campos não é para qualquer um.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Gota d'água

O Terror Branco continua. Que a crise encurralou o governo, dissolveu o PT, desmoralizou a esquerda e o ânimo dos simpatizantes e ainda detonou a tampa do bueiro onde se escondia parte do pensamento progressista à brasileira, a gente já sabe. Isso a gente agüenta. Mas até o Verissimo virou alvo dos rancores represados desde a eleição do Lula!
Hoje, Verissimo anunciou a morte da Velhinha de Taubaté e Ricardo Noblat transcreveu a crônica em seu blog. Diversos comentários são ataques pessoais terrivelmente mal-educados contra o autor e suas posições políticas. O mais sensato, não ler os comentários e evitar mais problemas gástricos, sequer passou pela minha cabeça.
Acabou o fair play.

quarta-feira, agosto 24, 2005

Coerências

O foguetório que fizeram diante do pronunciamento do Palocci também é requentado. Desde o começo o homem está lá para dizer que não se mexe com time que está ganhando.
* * *
A oposição que acusa Lula de fazer tábula rasa do passado é a mesma que acusa o PT de inaugurar um modelo inédito de corrupção no país.

domingo, agosto 21, 2005

Currículo

"A mídia livre e atuante, além de estar financeiramente quebrada, é exatamente a mesma que apoiou o golpe de 1964 e o golpe dentro do golpe de 1968. E se entregou, sem maiores resistências e com raras exceções, à autocensura durante a ditadura. E lutou contra a campanha das Diretas Já. E promoveu Collor para impedir a vitória do Sapo Barbudo. E fez de Fernando Henrique Cardoso o demiurgo dos conservadores do Brasil com o mesmo intuito. E celebrou o engodo eleitoral de 1999 e a quebradeira que se seguiu."
Mino Carta (Carta Capital, nº 355).

quarta-feira, agosto 17, 2005

Duas de blogs

Fazendo Gênero

Campanha "Namore uma mãe solteira"

Diretrizes básicas:
1) Nós não temos pressa de casar, porque já temos filho
2) Nós não temos pressa de ter filho, porque já temos filho
3) Nós não temos tempo de grudar no seu pé, porque já temos filho
4) Se você quiser ter um filho, tudo bem, porque já temos filho
5) Se você não quiser ter filho, tudo bem também, porque nós já temos filho

Ou seja, não há contra-indicação. Estou participando do movimento com força total.

Duas Fridas

Anotação mental de uma mulher contemporânea

Ser mulher o tempo todo; mulherzinha de vez em quando; mulherão quando necessário.
The Opportunity makes the thief.

Outra da Revolução

O Terror Branco foi uma espécie de "agora é a nossa vez" dos realistas contra os jacobinos no período final da Revolução Francesa. Com a Reação Termidoriana e a execução de Robespierre, os representantes do grupo político denominado Planície (moderados, esqueçam o que escrevi, superávit primário, essas coisas) assumiram o poder e apoiaram a jeunesse dorée que se divertia caçando os jacobinos pelas ruas e podia exibir sem medo da guilhotina toda sua riqueza para uma França miserável.
No Brasil, o Terror Branco não espera a revolução. Não aconselho os simpatizantes do PT a usarem broches ou camisetas para manifestar apoio ao que restou do partido sob risco de convocação para depoimento na CPI. E a jeunesse dorée anda muito bem representada pelo ACM Neto. Que, aliás, não pode nem ser chamado de 'mauricinho' sob pena de anacronismo. O termo correto é janota.

terça-feira, agosto 16, 2005

Dois artigos

Mauro Santayana sobre a pressa da oposição.
Previsões políticas de Canrobert Costa Neto.

Decoro

Segundo José Serra, com a morte de Miguel Arraes, agora ele é a única pessoa viva a ter discursado no famoso Comício da Central em 13 de março de 1964. Perguntado se seria também o último sobrevivente da esquerda e do socialismo, José Serra desconversou. Não houve um acesso de riso porque estavam no velório.

Revelações

A entrevista de Valdemar Costa Neto concedida à Época provocou grande estardalhaço no já tenso clima político do país. Pelo grau de importância, a revista antecipou sua publicação (que costuma aportar nas bancas aos sábados) para sexta-feira. Por causa dela, diz-se, Lula teria atrasado seu pronunciamento na reunião ministerial. Na entrevista, o ex-deputado revelou que o acordo firmado durante a campanha presidencial envolvia o pagamento de R$ 10 milhões do PT ao PL para o finaciamento de campanhas estaduais do partido.
No mesmo dia, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) afirmou que as informações prestadas pelo ex-deputado eram as mesmas de uma reportagem publicada em Carta Capital em 2002.
Carta Capital não deixou por menos e publicou na edição desta semana uma matéria comparando o teor as duas matérias, afastando a hipótese de coincidência.
E mais: apresentou uma cópia de uma nota fiscal de venda de dois exemplares da edição com a reportagem em questão emitida em 05/08 e em nome do Diretório Regional do PL de São Paulo. "Com problemas de memória, teria Costa Neto recorrido a Carta Capital para melhor contar a história à Época? É o que parece" - sentencia a reportagem.

sexta-feira, agosto 12, 2005

Ah, as crianças... II

Podem me chamar de conservador, mas a proposta de plebiscito entre professores, pais e alunos da rede municipal de ensino sobre a adoção de patrocínio nos uniformes escolares é tão absurda que chega a ser ofensiva. Calma, acredito que a participação dos pais e professores na decisão é importante e desde que fosse ampliada para outras pautas, seria um primeiro passo na aproximação da comunidade com as escolas. Entretanto, quem me explica a participação das crianças numa decisão como essa?
O secretário de Educação teve a audácia de realizar uma pesquisa com 60 alunos da 3ª série e 99% deles aprovam a idéia. Tudo bem, não é uma base de cálculo sólida para apontarmos uma resultado definitivo. Mas esse súbito ímpeto democrático, e sua decisão histórica de incluir os pequenos na decisão, já dão a mostra do tipo de acordo que se quer alcançar.
Se a participação dos alunos se concretizar (o plebiscito deve ocorrer em setembro), vou torcer para que as crianças tomem gosto pela coisa e comecem a exigir Mc Lanche Feliz na merenda. Com cachorrinho e tudo.

quarta-feira, agosto 10, 2005

Nacionalismo

Em defesa do anonimato nativo, apaguei dois comentários do texto anterior porque eram "spams in English, for sure".

domingo, agosto 07, 2005

Ah, as crianças

Como lembrado em Garatujas, algumas frases de A fantástica fábrica de chocolates são verdadeiros achados.

Willy Wonka: Se o senhor tivesse que escolher uma das metades de seu filho, com qual ficaria?

ou

Willy Wonka: Venha viver comigo na minha fábrica. Você será meu herdeiro.
Charlie: Mas, e a minha família? Posso levar minha família?
Willy Wonka: Não. Mas considere isso um prêmio extra.

Na frente da televisão II

– Não dá mais para confiar nos políticos. Mas ainda bem que nem tudo está perdido né, filha? Olha esse aí: ajuda as crianças carentes, preocupado com os adolescentes, estimula a inclusão digital dos idosos... taí, na próxima eleição vou votar nele.
– De quem você está falando?
– Desse que não pára de aparecer na tevê, ó. Qual o nome dele?
– Pai, esse é o Didi.

Na frente da televisão

Trilha sonora

Na novela das oito, Soy Loco por Ti, America na voz de Ivete Sangalo e A Horse with no Name de uma banda chamada... America. A novela das seis tem como tema de abertura a música homônima de Fábio Júnior. Não faltam argumentos para a carência de originalidade.
Figurino
Um amigo chamou a atenção para outro detalhe da CPI: como os deputados se vestem mal. É um festival de gravatas espalhafatosas, camisas medonhas e ternos sem corte. Já que não podemos interferir no texto, exigimos bom gosto.
Coadjuvante
Antes de inquirir José Dirceu na Comissão de Ética, Edmar Moreira (PL-MG) acusou os deputados de exibicionistas, bando de delatores e alcagüetas. Inconformado com as insistentes negativas de Zé Dirceu, o deputado mineiro lançou mais uma obra-prima da oratória política nacional: "É incrível, mas não é crível".

sexta-feira, agosto 05, 2005

Para variar

'Schadenfreude' explica - Verissimo
Deve haver uma grande palavra em alemão que signifique 'há uma grande palavra em alemão para tudo'. Por exemplo: não existe em outra língua - talvez por pudor - um equivalente ao alemão ´schadenfreude´, que quer dizer sentimento de prazer com a desgraça dos outros. Uma versão brasileira da palavra está fazendo falta na cobertura desta crise. Desde que surgiram as primeiras revelações da lambança em que o PT se meteu, um ´schadenfreude´ generalizado tomou conta do País. O PT não está pagando só pelo que fez, está pagando pelo que era, ou dizia que era, e o tamanho e a alegria do ´schadenfreude´ à sua volta são proporcionais à sua antiga pretensão à superioridade moral.Mas também se festeja a desgraça do PT como uma derrocada terminal da esquerda, da qual não sobraria vestígio depois de tudo isso acabado. É o ´schadenfreude´ ideológico. Deve haver outra palavra em alemão, ainda maior, para isto.
´Schadenfreude´ com ´schadenfreude´ se paga. Como alguns respingos da lambança têm atingido outros partidos e outros governos, fica-se na espera para comemorar cada nova prova de que o PT não foi bandido sozinho e que o esquemão vem de longe. Mas é uma batalha de ´schadenfreudes´ desigual. Governistas acuados não estão com ânimo para festejar o que quer que seja e o clima reinante na nação é o de arrasa-PT. As teorias conspiratórias ficam cada vez mais débeis, embora eu ainda defenda minha favorita, a de que se trata de um golpe de radicais do próprio PT que querem derrubar Lula e Palocci e colocar José Alencar na presidência. (Finalmente um governo de esquerda!) E a idéia de uma conspiração conservadora peca por inconsistência semântica. Conspiração que dizer movimento à margem da normalidade contra um poder estabelecido. Como a normalidade é hoje o que sempre foi, a direita com o poder não importa quem esteja no palácio, conspiração conservadora é um oxímoro, minha outra palavra difícil do mês.
Quando o Fernando Henrique disse que seu governo agora pertencia à História e portanto não cabia investigá-lo, estava falando da História como um refúgio, com blindagem permanente contra ameaças retroativas. Com toda a razão. A comparação da história do Brasil com uma espécie de asilo para o patriciado, à prova de remorsos, é irretocável. Assim tem sido desde o primeiro Pedro (o Alvares Cabral).
Como não é do patriciado, Lula não terá direito ao conforto do esquecimento, quando também virar história.
Nosso consolo é que não deve existir uma palavra em alemão mais expressiva, para tudo isto que está acontecendo, do que 'lambança'?
(OESP, 04/08/2005)

terça-feira, agosto 02, 2005

Condição

Roberto Freire vive dizendo que o presidencialismo é uma forma de governo atrasada e que já passou da hora de discutirmos a adoção do parlamentarismo no Brasil.
Apoiado. Se ele arranjar um eleitorado inglês, deputados ingleses e a monarquia inglesa, a gente providencia o Parlamentarismo.

Quadrinhos - Bob Thaves

OESP (01º/08/2005)

domingo, julho 31, 2005

Maringoni


Do Maringoni, na página da Agência Carta Maior

domingo, julho 24, 2005

Estamos perdendo

Nos pronunciamentos sobre os atentados do dia 07/07, Tony Blair afirmou que os ingleses não seriam vencidos pelo medo e a rainha Elizabeth disse que o terrorismo não alteraria o modo de viver dos ingleses. Os discursos em defesa da liberdade foram respostas altivas e de confiança dentro daquilo que o momento exigia. Exortavam a população à retomar as atidades regulares o mais breve possível porque seria a mais eloqüente resposta ao terror. Orgulhosos de seu regime, os ingleses entenderam a mensagem e atenderam a rainha. Só esqueceram de avisar a polícia.
Duas semanas depois, após os novos e felizmente frustrados atentados, a polícia britânica executou (cinco tiros na cabeça não permitem o uso de outro verbo) um jovem suspeito numa estação de metrô diante de alguns passageiros. O Estado de Direito já havia ido às favas quando souberam mais tarde que se tratava de um inocente eletricista brasileiro correndo atrasado para o trabalho.
"Essa tragédia só vem adicionar mais uma vítima ao total de mortes pelas quais os terroristas são responsáveis", declarou o prefeito de Londres, numa frase lapidar para a compreensão das atuais relações entre o Estado e o terrorismo. Na barbárie, a responsabilidade é sempre do outro.
Acreditava-se que o avanço tecnológico e a precisão dos novos armamentos restaurassem a diferença entre os combatentes e os não-combatentes, desaparecida nas guerras do século XX. Com elas os terroristas aprenderam rápido e aprimoraram a disseminação do horror e sofrimento entre os não-combatentes. Por outro lado, o atual conflito no Iraque mostra que os Estados continuam dando o exemplo. O Iraq Body Count calcula que 9% dos civis iraquianos mortos foram vítimas de atentados terroristas, enquanto os 91% restantes foram vítimas das ações das tropas aliadas.
Quando o Estado não respeita as regras que ele mesmo criou nem os valores que defende, fica muito difícil definir o que é terrorismo. Os londrinos provavelmente não estarão mais seguros com fuzilamentos de suspeitos em estações de metrô. A humanidade está em desvantagem e para nossa desgraça, em termos de coerência, os terroristas estão vencendo.

Onde é a cordinha?

Como diz o José Simão, o Brasil é o país da piada pronta. O tesoureiro do PL acusado de receber o misterioso mensalão tem o sugestivo nome de Jacinto Lamas. Fernandinho Beira-Mar foi transferido para Brasília semana passada.
E agora, a provável campeã de 2005.
Não sei vocês. Eu quero descer.

quinta-feira, julho 21, 2005

Poupando trabalho

Notícia no Portal Estadão informa que alguns torcedores do São Paulo colocaram mensagens no orkut (justo onde) comemorando as cenas de vandalismo na Av. Paulista. Mais tarde, depois da publicação, as mensagens foram retiradas e alguns deles se retrataram, alegando inocência.
Os cretinos uniformizados agora usam crachá.
* * *
Tivesse a PM enfrentado os torcedores com água fria ao invés de borrachadas, a Av. Paulista amanheceria florida e perfumada.

quarta-feira, julho 20, 2005

Tutti Funghi Serviço

Confira a entrevista com Sérgio Bianchi, diretor de Quanto vale ou é por quilo? e Cronicamente Inviável, na edição online de Caros Amigos.

terça-feira, julho 19, 2005

Protocolo

Lula está em Taubaté para a inauguração de uma fábrica de celulares. Mas depois da entrevista exibida no Fantástico, ele deveria visitar a velhinha também.

segunda-feira, julho 18, 2005

No alvo

“Há um certo mantra quando o governo não faz o que deveria fazer, que seria, em suma, quitar a divida social e o comentário geral da população, seja o governo federal, estadual, municipal é: existe corrupção. O comentário não é “estamos pagando uma fortuna em juros”, que talvez seja o maior dispêndio do país. Ou se responsabiliza o gasto com funcionário público ou se responsabiliza a suposta corrupção. A explicação para todos os casos, para todo o déficit social do Brasil, se volta para a corrupção, fator absolutamente insuficiente para dar conta disso. Outras questões, como a inserção subalterna do país na economia mundial, são deixadas de lado. Com isso, passamos a ver uma discussão que se move no plano das aparências, mas que não afeta o cerne das questões.”
(Renato Janine Ribeiro, em entrevista concedida à Revista Fórum deste mês)

Olho vivo

Novos elementos subversivos no Brasil. (Fórum dos leitores do Estadão, hoje)

Lígia Márcia Alves de Godoy: “Finalmente, com a invasão feita pela Polícia Federal na Daslu, acaba de ser fundada a República Bolivariana no Brasil!”

João Santos: “Causa revolta e desânimo a forma arbitrária e truculenta como a Polícia Federal, a Receita e a Procuradoria Federal vêm agindo, passando por cima da Constituição, invertendo a ordem, isto é, primeiro prendem e depois produzem a prova, quando o correto é provar a culpa para depois prender. Isso implica em inibir o fomento, novos investimentos que poderiam gerar milhares de empregos e progresso. Mas, como no Brasil do PT-Lula é proibido prosperar, só resta uma opção: virar sem-terra e ingressar no MST, que estes a polícia não ousa enfrentar”.

Últimas

Depois da pesquisa

“Na melhor das hipóteses é um idiota, na pior, um corrupto”.
(Artur Virgílio, o Antonio Roque Citadini do PSDB, atacando o presidente)
* * *
Responda rápido

O que irrita mais: Delúbio Soares afirmando que fazia caixa 2 no PT ou os deputados com cara de nunca ouvi falar disso antes, que horror?
* * *
Pedigree

O deputado da CPI dos Correios mais entrevistado é ninguém menos que ACM Neto.

Do jeito deles

Segundo os idealizadores da teoria do dominó, o Vietnã seria o primeiro de uma série de países independentes que ao se aliar à China provocaria uma onda comunista por toda a Ásia. Para evitar a catástrofe, decidiram envolver os EUA na guerra. Entretanto, se conhecessem a história do Vietnã, saberiam que os vietnamitas lutaram muitos séculos contra a dominação chinesa e não nutriam simpatia pelos vizinhos. Esse e outros aspectos da Guerra do Vietnã podem ser vistos em Corações e Mentes (1974), documentário de Peter Davis, em cópia restaurada por aqui.
Os depoimentos dos veteranos, os argumentos dos think tanks, a situação dos civis, o oba-oba das tropas com as prostitutas, as execuções a sangue-frio são exibidas de uma forma muito crua e aos poucos o documentário mostra como a paranóia anticomunista e o big business contribuíam para encobrir o atoleiro onde tinham se enfiado. E sem apelar para os comentários em off que comprometem Fahrenheit 11/9, de Michael Moore.
Davis também aproxima o discurso nacionalista do Vietnã e a ideologia da independência dos EUA, mostrando as contradições que justificavam a guerra e de quebra nos dá uma chave para entender a maneira estadunidense de compreender a História. A sua e a dos outros. Filmaço.

quinta-feira, julho 14, 2005

Frase da semana

‘Eliana Tranchesi abre sua cela para Caras’

(Daniel Gonçalves, professor, sugerindo capa para a famosa revista semanal)

Filósofos do Dasluminismo

(via Estadão - edição de hoje)

Sidnei Glibas, no Fórum dos Leitores: “Será que é só na Daslu que se sonega, ou melhor, se suspeita que sonega? Lógico que não. Quem não sonega não sobrevive no Brasil. Ninguém quer trabalhar e pagar imposto para ver o dinheiro na cueca ou na mala de alguém.”
(afinal, sonega ou não?)

Roberto Stavale, no mesmo Fórum: “Hoje o enlameado PT joga com a mesma tática de faer inveja a Joseph Goebbles, idealizador da propaganda nazista do 3º Reich. Para esquecermos a corrupção – como mensalões, cuecas recheadas de dólares, malas e sacos de dinheirama faturada com a venda de terrenos no céu para ser lavada nas pias batismais da Igreja Universal do ‘bispo’ Macedo – degustamos também a prisão dos diretores da Schincariol e a devassa promovida nas lojas Daslu, com a detenção de sua proprietária, símbolo das elites que tanto incomodam nossa esquerda festiva, a qual bebe cerveja à vontade e se veste com as melhores grifes.”
(qual a implicância com a cerveja?)

Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, advogado de Eliana Tranchesi: “A ação parece ideológica, para mostrar que os ricos também vão para a cadeia.”
(sempre achei que a 'ação ideológica no cumprimento da lei' fosse coisa de comunista)

Yara Baumgart, empresária e filósofa: “O que está acontecendo é uma grande revolução. Parece que o PT está tão enraivecido que decidiu atacar o coração da elite brasileira.”
(tomara, D. Yara. Tomara)

Bia Dória, embaixadora da grife Dior no Brasil: “Enquanto existirem tantos impostos, é impossível declarar tudo.”
(deve ser isso que chamam de presunção de inocência)

César Giobbi, colunista social: “Foi a vez da Daslu, o templo do luxo, contra o qual é represado o ódio da esquerda mais radical.(...). O afã de levantar poeira para desviar a atenção das mazelas do governo Lula e do PT são evidentes. A cada novo lance, uma resposta imediata, para jogar todo mundo numa vala comum.”
(igualzinho, igualzinho)

Com uma imprensa como a nossa é muito fácil dizer que a ação da PF na Nova Jerusalém, digo, Nova Daslu tenha a intenção de abafar a crise política. A cobertura de dois eventos de pesos tão similares divide mesmo as atenções.

Terra fértil

Não deixa de ser curioso que para salvar a legenda tenham escolhido para presidente do PT um gaúcho de São Borja.

Na frente

Parte importante da pesquisa CNT/Sensus que os jornais não publicaram. (trecho da matéria da Agência Carta Maior)

O maior desestímulo que a pesquisa traz a FHC é seu índice de rejeição, uma vez que 58,1% dos entrevistados afirmaram que não votariam no ex-presidente “de jeito nenhum”. Nesse ponto, Lula obtém importante vitória simbólica contra seu rival histórico, pois o índice de rejeição do petista, de 30,8%, é o menor entre todos os presidenciáveis. O vice-campeão da rejeição é Garotinho, com 57,9% de índice, seguido por Cesar Maia com 55,4%, Aécio com 42,5%, Serra com 42,4% e Alckmin com 39,3%.

quarta-feira, julho 13, 2005

Dois cinemas e uma fita

Batman Begins

Batman não tem um metro e vinte, nem seu uniforme tem mamilos. Gotham City não fica parecendo uma balada no Madame Satã. Não mataram os vilões. Gary Oldman faz papel de gente normal...
Pensando na quantidade de besteiras que já se fez a respeito do Batman, é um grande filme.

Nicotina

A trama e a maneira como os personagens entram na história são bem articuladas. Também tem diálogos criativos. É bem divertido. Mesmo com aquela impressão de reprise.

A insustentável leveza do ser

Tomas, um canastrão; Tereza, ingênua demais; Sabina, mulher fatal. Salvo pelo elenco e pelas cenas da invasão soviética (realmente emocionantes). Leia o livro.

sexta-feira, julho 08, 2005

Contas do poder

Considerando que para a aprovação da emenda da reeleição alguns deputados tenham custado R$ 200 mil e atualmente os deputados custem R$ 30 mil/mês em votações importantes, pergunta-se: a economia resultante deve ser levada em conta no cálculo do superávit primário?

segunda-feira, julho 04, 2005

Handicap

Em entrevista à revista Exame desta quinzena, Dom Fernando aconselhou Lula a não se candidatar a reeleição. Ou seja, o medo quer vencer a esperança por W.O.

domingo, julho 03, 2005

Recomendações

Visitem o blog do Paulo Markun. Num momento como esse, um pouco de sobriedade não faz mal. Destaque para o texto de 21 de junho no qual comenta a entrevista de Roberto Jefferson no Roda Viva.
Dica: melhor não ler os comentários que as crianças deixam lá. Repito, melhor não!

Bem falado

O entendimento é um dos temas de Um filme falado do diretor português Manoel de Oliveira que está em cartaz faz algum tempo por aqui. Conta a história de uma professora de História (Leonor Silveira) que faz um cruzeiro com a filha, visitando diversas regiões importantes para a cultura ocidental (Marselha, Nápoles, Atenas, Istambul). Em todas elas, a professora ensina a curiosa menina, e ao espectador, um pouco sobre história e sobre tolerância.
Há uma cena fantástica na qual algumas personagens, uma francesa (Catherine Deneuve), uma grega (Irene Papas), uma italiana (Stefania Sandrelli) e um americano (John Malkovich), conversam cada qual em sua língua e todos se entendem maravilhosamente. A única a se expressar em uma língua diferente da sua, porque, convenhamos, português ninguém entende, é a personagem de Leonor Silveira.
Manoel de Oliveira defende um ideal internacionalista e de uma maneira extremamente criativa nos lembra que, para além de toda a diferença, estamos todos literalmente no mesmo barco.

Legenda

Trechos da entrevista de Chico Buarque concedida ao espanhol La Vanguardia e publicada esta semana por aqui:
Uma vida rodeado de mulheres.
Sim, irmãs, filhas, netas.
(...)
Sempre fugiu da fama?
Não, participei de festivais e busquei o reconhecimento para meu trabalho. Mas logo aparece a fama boba, oca, que é a sombra do reconhecimento e que fala se o artista está gordo ou com quem vai para a cama.Há 40 anos não era assim.
(...)
Por que teremos chegado a esse ponto?
Nunca vi um movimento geral de idiotice como o de agora.Mas em meu país, de 15 anos para cá, vem crescendo perigosamente. A idiotice nos rodeia, eu mesmo tenho medo de me tornar idiota...
(...)
Falemos de épocas mais intensas.
Não sou nostálgico, não penso que éramos mais bonitos, mais magros e mais felizes, embora tudo isso seja verdade. Não me agrada recordar nem os anos 60 nem os 70, dos 80 não me lembro, e nos 90 começou a idiotice. Nunca estive de acordo com o que me cercava. Me agrada estar vivo, fazer as coisas em meu ritmo, sem pressões.
(...)
Para quem escreve as letras de suas canções?
São 'cantadas' para mim mesmo: é formidável, experimente, diga-se coisas bonitas. Me lembro de Vinicius de Moraes, que quando viajava sozinho e tinha sonhos se cantava canções de ninar e passava a mão no rosto até adormecer. Eu tentei e não funcionou.
(...)
Como é a sua mãe?
Tem 95 anos e repete constantemente, 'Juízo e alegria!', e eu lhe digo: 'Mamãe, ou juízo ou alegria.' Meu pai era um sonhador e ela equilibrou seu lado boêmio, impunha a disciplina mas com muito sentido de humor, com isso: com juízo e alegria. Sete filhos!

sábado, julho 02, 2005

Sem Legenda


(Valéria Gonçalvez/ AE)

quinta-feira, junho 30, 2005

Exclusivo

Nossos correspondentes em Frankfurt acompanharam a preleção do técnico Carlos Alberto Parreira nos minutos que antecederam a decisiva partida contra a Argentina pela Copa das Confederações. Eis a íntegra:

“Bem, moçada, vou recapitular alguns pontos que me parecem essenciais nesse momento de superação. Então, vamos lá: o time deve ser perigoso do início ao fim. Você não, Roque. Aliás, decidi atender uma solicitação do Beckenbauer e inverti a dupla de ataque. Segundo ele, talvez o novo estádio não suporte eventuais choques entre o Adriano e o Collocini. Abalos na estrutura atrasariam todo o cronograma da Copa ano que vem. Portanto Robinho, você vai para o sacrifício. Enquanto no Brasil gritam “pedala, Robinho”, na Argentina gritam “atropella, Collocini”. Pense nisso. O segredo é abusar da velocidade contra ele: corra o mais que puder e nada vai te acontecer. Kaká, se apanhar não venha chorando ao banco de reservas. Você já é um homenzinho, aprenda a revidar. Ronaldinho, lembre-se que esse é um esporte coletivo e somos um time. Isso não impede que você possa driblar e mostrar seu bom futebol em campo. Você não, Roque.
Por último, quero um time de muita pegada e atenção na marcação. Émerson, como volante de contenção você tem que desarmar as jogadas argentinas e tomar a bola do Lúcio se ele passar do meio de campo. Com falta se necessário. Nos escanteios, quero todo mundo pegando o seu. Adriano, nessa hora você tem que voltar para ajudar a defesa e marcar o Roque. Gilberto... alguém acorda o Gilberto? Cicinho, eu já tenho um time na cabeça para o ano que vem, não me cause problemas, seja burocrático.
Que Deus nos ajude e ao Roque em particular!”

segunda-feira, junho 27, 2005

"Você teve um dia ruim uma vez, não é?"

Minha demissão esta manhã passaria despercebida pelo blog (não gosto de falar da minha vida pessoal) se não fosse essa notícia que li a tarde. Claro que não é um bom sinal. Pior do que isso, é achar alguma graça na coincidência (nada menos engraçado do que mortes e tal). Coisa de maluco. Definitivamente, não é bom sinal. Férias, por favor.

sábado, junho 25, 2005

Ufa!

Tomei um susto daqueles com uma nota insignificante no jornal: "Colômbia começa fase de testes com Super Tucano". Achei que a moda estava pegando por lá também, mas lendo com mais cuidado descobri que se trata do Emb-314 Super Tucano, turboélice de ataque leve fabricado pela Embraer. Ah bom!

Qual é o crime mesmo?

(ou Enquanto Seu Lobo não vem II)

Argumento do diretor-executivo do Ibef-RJ, Marcos Varejão, para desqualificar a campanha do deputado Fernando Gabeira (PV) pela descriminação da maconha:
"É bom lembrar que esse Gabeira é um seqüestrador, um usuário de maconha e, dizem as más línguas, não sou eu quem estou dizendo, é um homossexual. O que ele diz não é para ser levado em consideração."

Enquanto Seu Lobo não vem

No mesmo dia em que Roberto Jefferson fazia seu número na Conselho de Ética na Câmara, a Corte Suprema de Justiça da Argentina declarava a inconstitucionalidade das Leis do Perdão que livraram de julgamento os responsáveis pelos abomináveis crimes praticados durante a ditadura.
Enquanto lá os processos contra os militares e policiais envolvidos em crimes contra a humanidade são reabertos, por aqui o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) continua aprontando.
Ele que certa vez havia lamentado que FHC não tivesse sido fuzilado durante a ditadura, nesta semana chamou José Dirceu de terrorista, o presidente Lula de "homossexual" e Dilma Rousseff de "especialista em roubo e assalto". Não contente, ontem (24 de junho) foi o responsável por uma sessão solene na Câmara dos Deputados em homenagem aos militares que "desmontaram" a Guerrilha do Araguaia.
O coronel Lício Maciel, responsável pela prisão de José Genoíno em 1972, foi o grande homenageado. Ele acusou Genoíno de delatar os companheiros e se diz arrependido por não ter lhe dado umas "bolachas". Ele também contou com detalhes (sórdidos) alguns momentos da ação contra os guerrilheiros.
Todo o evento foi realizado dentro das normas democráticas e de acordo com as leis vigentes na Republiqueta. E nem sinal da abertura dos arquivos.
Caquéticos e impotentes somos nós.

quinta-feira, junho 23, 2005

Lógicas

(Não tive tempo esta semana para um texto novo. Fiquem com o bom e velho.)

Lógicas
VERISSIMO

O senador Pedro Simon foi o último brasileiro a acreditar na lógica. Durante muito tempo batalhou para que CPIs como a que expôs os corruptos do esquema PC Faria tivessem seu complemento lógico, uma CPI dos corruptores. Batalhou sozinho. Pensou que tinha a lógica do seu lado. A lógica - pelo menos como sinônimo de raciocínio comum, ou pseudônimo do óbvio - é que não tinha mais ninguém do lado dela. Prevaleceu uma versão do curioso princípio brasileiro segundo o qual só o parceiro passivo é homossexual, o outro é no máximo um oportunista. Finalmente até o senador Pedro Simon se deu conta de onde estava e desistiu da lógica.Nenhum dos grandes empresários que colaboraram com o sultanato do PC para terem favores do governo precisou se preocupar com uma CPI ou sequer um tapa na mão.Estavam apenas cuidando dos seus negócios. Sendo, no máximo, práticos.
Corruptores a salvo da lógica, habituados a comprar favores de políticos sem risco, tendem a confundir sua impunidade com superioridade moral e dar maus exemplos. Na compra de apoio ao governo no Congresso, se houve, o PT teria agido com o mesmo desdém do empresariado pelos políticos, convencido de que não é antiético pagar picaretas para fazerem o bem como não é imoral pagá-los por bons negócios.Se foi assim, não pegaram o espírito da coisa. Não podem se queixar por não estarem sendo julgados como os empresários, apenas homens práticos fazendo o que fazem todos para prosperar no Brasil. São o partido da ética ostentada, da alternativa nova a velhos maus hábitos - enfim, tudo que os outros não perdoam. O PT era temido por ser, ou se proclamar, diferente e vai ser condenado por ser igual a todo o mundo. Ou um mau imitador de todo o mundo.
E depois que até o senador Simon abandonou a lógica, parece que caímos no reino do ilógico. É ilógico pensar que estamos em meio a um golpe conservador contra um governo que, mais do que o anterior, faz a alegria da classe rentista - e não é necessariamente errado. Mas o senador pode se sentir desagravado em pelo menos um ponto, nesta crise. Enquanto corruptos confessos passam por paladinos da moralidade, desta vez todas as atenções estão nos corruptores.
(OESP. 23.06.2005)

sábado, junho 18, 2005

Últimas

A saída de Zé Dirceu do Ministério da Casa Civil rendeu dividendos para todo mundo. A oposição acertou um upper no governo, Roberto Jefferson continua exercendo o sagrado e irresponsável direito de dizer o que quiser de qualquer um e o Planalto acena com uma reforma ministerial que pode encorpar a bancada petista na Câmara. O Brasil é mesmo muito democrático.

Ah, tava demorando...

Coincidência ou não, a Editora da UnB está publicando a colossal correspondência de Carlos Lacerda em dois volumes. Muito oportuno.
Déjà vu

No Estadão de hoje, o jornalista Carlos Marchi critica o discurso de Zé Dirceu proferido no ato em desagravo ao PT. Segundo ele, Zé Dirceu agiu como se estivesse no alto de um ônibus discursando contra a ditadura em 1968 e não como membro do governo em 2005. Também acho. Aliás, a imprensa também poderia parar de se comportar como se estivéssemos em 1964.

Pelo menos
“Eu acredito em Roberto Jefferson – PTB” era a frase estampada nas camisetas distribuídas ontem, antes do início da reunião do diretório nacional do partido. Idéia da filha dele, vereadora carioca pelo mesmo partido.
Memória curta
Segundo o príncipe D. Fernando, o Desejado dos Trópicos, o mensalão é "uma invenção contemporânea", porque nunca houve "qualquer tipo de prática similar no Brasil".

Lição de casa

"Batuta Musical" - outra missão.

Volume total de músicas em meu computador:
Você deve estar brincando.

O último CD que comprei foi:
África Brasil, Jorge Ben. Salve simpatia!

Música tocando no momento:
De forma a preparar o espírito para responder a próxima pergunta, o que exige uma certa solenidade, estou ouvindo A Cavalgada das Valquírias, do Wagner.

Vinte músicas que eu ouço bastante, ou que significam muito pra mim:
Como não temos controle sobre aquilo que ouvimos bastante (exemplo, Festa no Apê), prefiro as musícas que significam muito.

1) Strictly Genteel, Zappa – seria hino nacional do meu país fictício.
2) Amor, Secos & Molhados – “simples e suave coisa/ suave coisa nenhuma”.
3) Beatles. (Particularmente, In My Life. Parece um trocadilho idiota, mas é justamente porque me traz boas lembranças).
4) Take Five, Dave Brubeck Quartet– (“Jazz is not dead. It just smells funny” – Zappa)
5) This Friendly World, R.E.M., Andy Kauffman e Tony Clifton – definitivamente, uma música alegre (e engraçada).
6) Rush – músicos virtuosos e inteligíveis.
7) Bamboozled by Love, Zappa – a versão ao vivo dessa música com a base de Owner of a Lonely Heart do Yes é divertidíssima.
8) O cd Run Devil Run do Paul McCartney. Com David Gilmour (guitarra – Pink Floyd) e Ian Paice (bateria – Deep Purple). Quando meu sobrinho me perguntar o que é Rock ‘n Roll, vou responder com esse álbum.
9) Elis Regina – pelo inigualável vigor nas interpretações.
10) Guardanapos de Papel, Milton Nascimento – porque eu choro.
11) Whole Lotta Love, Led Zeppelin – quatro monstros. Deve ser mesmo coisa do Demônio.
12) Sofa nº 1, Zappa – um dia ainda vou ouvir essa música num casamento ou formatura.
13) Paranoid, Black Sabbath – todas as versões: a original, ao vivo com Ozzy Osbourne e Randy Roads e a do Megadeth.
14) Thick as a Brick, Jethro Tull – o álbum tem uma única música e lembra aquela Coleção Disquinho.
15) Chico Buarque – até eu, minha filha.
16) Karnak – bons músicos, bom humor, boa pedida.
17) A trilha sonora de Cães de Aluguel.
18) O álbum Playboy & Playgirl do Pizzicato Five – a prova de que podemos nos divertir sem entender absolutamente nada do que estão cantando.
19) White Stripes – podem me apedrejar.
20) Watermelon in Easter Hay, Zappa. Ou melhor, todas do Joe’s Garage. Aliás, tudo o que ele fez. Sempre. Amém.

Cinco (cinco?) pessoas pra quem eu passo a "Batuta Musical":
Os blogs indicados por Garatujas vão dar conta. Eu estou pensando mesmo nas pessoas com as quais terei que me reconciliar depois dessa lista.

quinta-feira, junho 16, 2005

Como óperas

“Sessões de CPIs e comissões como a de Ética ouvindo o Roberto Jefferson são um pouco como óperas: períodos alternados de melodrama e tédio entrecortados por uma ou outra ária memorável. A ária de Roberto Jefferson na terça foi muito boa. Certamente animada pela possibilidade de realizar o sonho secreto de todo tenor, que é o de derrubar o teatro com sua voz.”
(L. F. Verissimo)

quarta-feira, junho 15, 2005

Futebol... fazer o quê?

Por sorte, consegui um tempo nesta tarde e assisti à partida entre Alemanha e Austrália pela abertura da Copa das Confederações. Tudo bem, é um torneio inexpressivo, um verdadeiro caça-níqueis, etc, mas não custa nada dar uma espiadinha nos estádios onde serão jogadas as partidas da Copa do Mundo ano que vem. O novo estádio construído em Frankfurt, por exemplo, onde ocorreu a partida, tem capacidade para 60 mil pessoas, estacionamento subterrâneo, um telão principal como aqueles dos ginásios da NBA e... é um espetáculo. E antigamente eu achava que tínhamos condições de sediar uma Copa.
* * *
O futebol alemão é difícil de agüentar. A seleção alemã joga de maneira tão burocrática quanto a seleção inglesa mas sem a mesma elegância. Pelo contrário, enquanto os ingleses parecem jogar pólo, os alemães atuam como os tanques das divisões Panzer. E o pior é que funciona!

* * *
Nos poucos jogos em que vi Oliver Kahn atuar, ele não foi bem. Aliás, foi péssimo. Hoje de novo. E olha que ele já foi considerado um dos melhores do mundo. Quem sabe eu não esteja prejudicando o infeliz. Vou deixar de assistir aos jogos da Alemanha para ver o que acontece.
* * *
Juan e Roque “Rúnior” que formam a dupla de zaga do Bayer Leverkussen e o Lúcio que joga no Bayer de Munique são considerados ídolos na Alemanha pelas respectivas torcidas. Claro, se não como é que iria sair gol no campeonato?
* * *
Última: ano de centenário não fez bem para clubes de futebol. Tivemos o (triste) caso do Flamengo e dessa vez nuestros hermanos do Boca Juniors. Desempenho pífio no campeonato argentino e despedida melancólica (depois da surra em Guadalajara) com confusão em La Bombonera. Há gente dizendo que é tudo culpa daquela camisa comemorativa que lembra a do River...

Quadrinhos - Bob Thaves

Sugestão

Nas próximas eleições, a esquerda CVV não deveria lançar candidato a nada e votar em bloco no PFL para assim criar as "condições objetivas" da Revolução.

terça-feira, junho 14, 2005

Esclarecimentos

Acredito que muitas brasileiros adotaram "libertarian" como orientação política no orkut equivocadamente, imaginando se tratar de "libertário". Mas em inglês, "libertarian" designa a extrema direita americana (aquela que ainda acredita que os comunistas mandam mensagens secretas via embalagens de cereais matinais e que se precisar pega em armas contra o governo - qualquer governo) e sendo assim, "very libertarian" por aqui estaria mais próximo da UDR do que do MST.
Culpa de uma tradução apressada, sem dúvida. Mas quem me explica por que nessa crise do governo tanto a direita reumática quanto a esquerda CVV ("Caminho, Verdade e Vida") se refestelam fazendo cara de "viu como é tudo igual?"?

Não pula ainda

Se você acha que está tudo perdido, aconselho a leitura da entrevista publicada na Carta Capital desta semana que minha querida amiga fez questão de republicar. Com grifos e tudo!
Vai lá e prestigia, pô!

domingo, junho 12, 2005

Dasluminismo II

Como previsto, o Dasluminismo continua conquistando corações e mentes:

"A corrupção é um mal do povo brasileiro! Está na nossa genética ruim, feita com imigrantes, um povo degradado. As pessoas de Portugal que vieram eram as que mais atrapalhavam. Depois chegaram os outros imigrantes, já tentando impor mais respeito. Começou tudo errado."
(Raul Rei Lear Cortes, ator, na inauguração da Daslu)

Dasluminismo

Anote aí, 08 de junho de 2005. Em pouco tempo, essa será uma data tão importante para os brasileiros quanto o 04 de julho para os estadunidenses. Nesse dia, testemunhamos (contra a vontade, porque somos ignorantes) um acontecimento singular na História: a inauguração do maior templo nababesco de consumo do mundo e de quebra acompanhamos o nascimento de um movimento intelectual genuinamente brasileiro: o Dasluminismo.
Não bastasse incutir o bom gosto e o luxo nos hábitos da patuléia, Eliana Tranchesi, a proprietária do colossal empreendimento, filosofa e nos brinda com sua sabedoria em todas as inúmeras entrevistas concedidas semana passada para celebrar o magnífico evento.
Acompanhe (entrevista concedida a Luciana Garbin e publicada em OESP de 05 de junho):
Obs: a entrevista a seguir é real. Qualquer semelhança com personagens e obras de ficção como Quanto Vale ou É por quilo? é mera coincidência.


O Brasil é um dos campeões de desigualdade social. Incomoda ser dona de um templo do luxo?
Não. Primeiro, porque não sou responsável pela desigualdade, muito pelo contrário. A gente tem uma creche, que, atenderá, neste prédio, a 200 crianças. Praticamente todos os filhos dos funcionários - tão bem assistidos quanto os meus filhos. O seguro-saúde dos empregados é o mesmo que meus filhos têm. Eles têm vida digna. São 1.200 pessoas que podem comer aqui, têm espaço para fumar, descansar, tomar sol, têm quadra de esporte... Tem sabe o quê também? O olho no olho, atenção. Todo mundo aqui é muito bem tratado. E eu faço a minha parte, pago todos os impostos e acho que a gente acabou com a evasão de divisas. Só para consertar roupa, dou emprego para 150 costureiras. Não me sinto culpada e acho que a geração dos meus filhos é muito mais consciente dos problemas no Brasil. Não adianta reclamar, a gente tem de fazer.

Como surgiu a idéia da creche?
Eu tinha uma copeira, a Lindomar, que servia café. Numa segunda-feira, ela faltou. A irmã veio e contou que o filho dela de 15 anos tinha sido assassinado no fim de semana. E que a filha de 9 anos não podia ir sozinha para a escola, por causa da violência. Resolvi começar a creche. Começamos com 25 crianças. Hoje, damos capoeira, balé, computação, inglês, dentista, fono. E estamos estudando a possibilidade de, a partir do próximo ano, ser escola.
O que significa esse império?
Acho que é obra de Deus. Tudo aconteceu no tempo certo. Inclusive o problema na Vila Nova. Na época, eu pensava: não é possível, meu Deus, eu, com 600 empregados, e o Contru procurando motivos para fechar a Daslu! Agora, vejo que tudo foi para o bem, foi para uma obra maior.

Haja tapete

(texto do Verissimo publicado quinta-feira, dia 09 de junho.)

Estava certo que o PT não mudasse a política econômica do governo anterior, mas poderia ter mudado pelo menos a sua decoração de interiores. Não mudou. Manteve o grande tapete para baixo do qual o governo passado varreu todos os seus escândalos e ameaças de CPIs inconvenientes. Pode ter se impressionado com a sua útil grandiosidade. Afinal, um tapete capaz de cobrir todas as suspeitas inexplicadas de um processo como o da privatização das telecomunicações - um dos maiores negócios do mundo, na época, gerador de maracutaias também gigantescas - sem que ficasse aparecendo um calombo, não é de se jogar fora, ou trocar por carpetes funcionais. O PT talvez só esteja se perguntando por que o tapetão milagroso funcionou para abafar o caso dos votos comprados para a reeleição do Fernando Henrique, além de casos amazônicos como o das teles e outros, e não funciona com ele.
A pergunta seria ingênua.
Nem é preciso recorrer a mais uma piada sobre a circunferência do Roberto Jefferson para concluir que faltaria tapete para esconder o volume de escândalos que ele protagoniza, promove e sugere. Também é uma questão de classe: o governo anterior era de gente fina, que merecia os privilégios de um tapete acomodador sob os seus pés, mesmo sujos. Já o que não falta agora é indignação do patriciado com a invasão do governo por lulas e afins, que literalmente não sabem onde pisam e não combinam com a decoração. Não fosse por um detalhe, o que estaria em curso hoje no Brasil seria um clássico golpe conservador, como todo o seu arsenal de moralismo seletivo e denuncismo dirigido, contra um inadmissível governo de esquerda.
O detalhe que falta, claro, é o governo de esquerda.No fim, a explicação que tem de ser dada não é a dos suspeitos para os jornais e as CPIs, é a do PT para os seus militantes e eleitores, para aquele cara acenando sua bandeira vermelha na esquina, sozinho, de graça, porque acreditava e confiava. E o que precisam lhe explicar é por que mágica seu voto no PT deu num Roberto Jefferson com tantos poderes no governo, inclusive o de derrubá-lo.

quinta-feira, junho 09, 2005

Eliminatórias


Nunca fui adepto do "uma imagem vale mais do que mil palavras". Mas respondendo a pergunta...

quarta-feira, junho 08, 2005

No conto

A Ovelha Negra, Italo Calvino relata a história de um país muito curioso onde todos os seus habitantes eram ladrões e ganhavam a vida roubando uns aos outros. Todas as noites, os ladrões saíam de suas casas para roubar e quando voltavam, encontravam suas residências saqueadas. Trapaceavam no comércio dos produtos do roubo. O governo roubava os súditos, que por sua vez, sonegavam impostos. E viviam em paz pois não havia diferenças entre eles. Até que um dia apareceu um homem honesto.
O homem honesto não saía de casa para roubar e justamente por isso, acabava impedindo que alguém a roubasse. Ou seja, no dia seguinte, uma família ficava sem ter o que comer. Sabendo disso, então, o homem honesto passou a se ausentar de sua casa. Quando voltava, sua casa estava devidamente arrombada. Seus bens duraram uma semana.
Tal comportamento gerou um grande problema porque sempre que alguém voltava de um roubo, descobria sua casa intacta. Gradativamente, os que não eram roubados se tornaram ricos e não queriam mais roubar. E também se ausentavam de suas casas aumentando a confusão, pois os ricos logo perceberam que se continuassem sem roubar ficariam pobres. Então, contrataram os pobres para roubar por eles. Como ainda viviam num país de ladrões, também roubavam uns aos outros nos contratos de trabalho. E como sempre os ricos ficavam cada vez mais ricos e os pobres mais pobres.
Os ricos mais ricos não precisavam roubar e mandavam roubar apenas para continuarem ricos. Se parassem de roubar, ficariam pobres porque seriam roubados pelos pobres. Por isso, contrataram os mais pobres para defenderem suas posses dos pobres, instituindo a polícia e as prisões. No antigo país dos ladrões não se falava mais em roubar ou ser roubado, mas de ricos e pobres.
O homem honesto morreu de fome.