quinta-feira, junho 30, 2005

Exclusivo

Nossos correspondentes em Frankfurt acompanharam a preleção do técnico Carlos Alberto Parreira nos minutos que antecederam a decisiva partida contra a Argentina pela Copa das Confederações. Eis a íntegra:

“Bem, moçada, vou recapitular alguns pontos que me parecem essenciais nesse momento de superação. Então, vamos lá: o time deve ser perigoso do início ao fim. Você não, Roque. Aliás, decidi atender uma solicitação do Beckenbauer e inverti a dupla de ataque. Segundo ele, talvez o novo estádio não suporte eventuais choques entre o Adriano e o Collocini. Abalos na estrutura atrasariam todo o cronograma da Copa ano que vem. Portanto Robinho, você vai para o sacrifício. Enquanto no Brasil gritam “pedala, Robinho”, na Argentina gritam “atropella, Collocini”. Pense nisso. O segredo é abusar da velocidade contra ele: corra o mais que puder e nada vai te acontecer. Kaká, se apanhar não venha chorando ao banco de reservas. Você já é um homenzinho, aprenda a revidar. Ronaldinho, lembre-se que esse é um esporte coletivo e somos um time. Isso não impede que você possa driblar e mostrar seu bom futebol em campo. Você não, Roque.
Por último, quero um time de muita pegada e atenção na marcação. Émerson, como volante de contenção você tem que desarmar as jogadas argentinas e tomar a bola do Lúcio se ele passar do meio de campo. Com falta se necessário. Nos escanteios, quero todo mundo pegando o seu. Adriano, nessa hora você tem que voltar para ajudar a defesa e marcar o Roque. Gilberto... alguém acorda o Gilberto? Cicinho, eu já tenho um time na cabeça para o ano que vem, não me cause problemas, seja burocrático.
Que Deus nos ajude e ao Roque em particular!”

segunda-feira, junho 27, 2005

"Você teve um dia ruim uma vez, não é?"

Minha demissão esta manhã passaria despercebida pelo blog (não gosto de falar da minha vida pessoal) se não fosse essa notícia que li a tarde. Claro que não é um bom sinal. Pior do que isso, é achar alguma graça na coincidência (nada menos engraçado do que mortes e tal). Coisa de maluco. Definitivamente, não é bom sinal. Férias, por favor.

sábado, junho 25, 2005

Ufa!

Tomei um susto daqueles com uma nota insignificante no jornal: "Colômbia começa fase de testes com Super Tucano". Achei que a moda estava pegando por lá também, mas lendo com mais cuidado descobri que se trata do Emb-314 Super Tucano, turboélice de ataque leve fabricado pela Embraer. Ah bom!

Qual é o crime mesmo?

(ou Enquanto Seu Lobo não vem II)

Argumento do diretor-executivo do Ibef-RJ, Marcos Varejão, para desqualificar a campanha do deputado Fernando Gabeira (PV) pela descriminação da maconha:
"É bom lembrar que esse Gabeira é um seqüestrador, um usuário de maconha e, dizem as más línguas, não sou eu quem estou dizendo, é um homossexual. O que ele diz não é para ser levado em consideração."

Enquanto Seu Lobo não vem

No mesmo dia em que Roberto Jefferson fazia seu número na Conselho de Ética na Câmara, a Corte Suprema de Justiça da Argentina declarava a inconstitucionalidade das Leis do Perdão que livraram de julgamento os responsáveis pelos abomináveis crimes praticados durante a ditadura.
Enquanto lá os processos contra os militares e policiais envolvidos em crimes contra a humanidade são reabertos, por aqui o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) continua aprontando.
Ele que certa vez havia lamentado que FHC não tivesse sido fuzilado durante a ditadura, nesta semana chamou José Dirceu de terrorista, o presidente Lula de "homossexual" e Dilma Rousseff de "especialista em roubo e assalto". Não contente, ontem (24 de junho) foi o responsável por uma sessão solene na Câmara dos Deputados em homenagem aos militares que "desmontaram" a Guerrilha do Araguaia.
O coronel Lício Maciel, responsável pela prisão de José Genoíno em 1972, foi o grande homenageado. Ele acusou Genoíno de delatar os companheiros e se diz arrependido por não ter lhe dado umas "bolachas". Ele também contou com detalhes (sórdidos) alguns momentos da ação contra os guerrilheiros.
Todo o evento foi realizado dentro das normas democráticas e de acordo com as leis vigentes na Republiqueta. E nem sinal da abertura dos arquivos.
Caquéticos e impotentes somos nós.

quinta-feira, junho 23, 2005

Lógicas

(Não tive tempo esta semana para um texto novo. Fiquem com o bom e velho.)

Lógicas
VERISSIMO

O senador Pedro Simon foi o último brasileiro a acreditar na lógica. Durante muito tempo batalhou para que CPIs como a que expôs os corruptos do esquema PC Faria tivessem seu complemento lógico, uma CPI dos corruptores. Batalhou sozinho. Pensou que tinha a lógica do seu lado. A lógica - pelo menos como sinônimo de raciocínio comum, ou pseudônimo do óbvio - é que não tinha mais ninguém do lado dela. Prevaleceu uma versão do curioso princípio brasileiro segundo o qual só o parceiro passivo é homossexual, o outro é no máximo um oportunista. Finalmente até o senador Pedro Simon se deu conta de onde estava e desistiu da lógica.Nenhum dos grandes empresários que colaboraram com o sultanato do PC para terem favores do governo precisou se preocupar com uma CPI ou sequer um tapa na mão.Estavam apenas cuidando dos seus negócios. Sendo, no máximo, práticos.
Corruptores a salvo da lógica, habituados a comprar favores de políticos sem risco, tendem a confundir sua impunidade com superioridade moral e dar maus exemplos. Na compra de apoio ao governo no Congresso, se houve, o PT teria agido com o mesmo desdém do empresariado pelos políticos, convencido de que não é antiético pagar picaretas para fazerem o bem como não é imoral pagá-los por bons negócios.Se foi assim, não pegaram o espírito da coisa. Não podem se queixar por não estarem sendo julgados como os empresários, apenas homens práticos fazendo o que fazem todos para prosperar no Brasil. São o partido da ética ostentada, da alternativa nova a velhos maus hábitos - enfim, tudo que os outros não perdoam. O PT era temido por ser, ou se proclamar, diferente e vai ser condenado por ser igual a todo o mundo. Ou um mau imitador de todo o mundo.
E depois que até o senador Simon abandonou a lógica, parece que caímos no reino do ilógico. É ilógico pensar que estamos em meio a um golpe conservador contra um governo que, mais do que o anterior, faz a alegria da classe rentista - e não é necessariamente errado. Mas o senador pode se sentir desagravado em pelo menos um ponto, nesta crise. Enquanto corruptos confessos passam por paladinos da moralidade, desta vez todas as atenções estão nos corruptores.
(OESP. 23.06.2005)

sábado, junho 18, 2005

Últimas

A saída de Zé Dirceu do Ministério da Casa Civil rendeu dividendos para todo mundo. A oposição acertou um upper no governo, Roberto Jefferson continua exercendo o sagrado e irresponsável direito de dizer o que quiser de qualquer um e o Planalto acena com uma reforma ministerial que pode encorpar a bancada petista na Câmara. O Brasil é mesmo muito democrático.

Ah, tava demorando...

Coincidência ou não, a Editora da UnB está publicando a colossal correspondência de Carlos Lacerda em dois volumes. Muito oportuno.
Déjà vu

No Estadão de hoje, o jornalista Carlos Marchi critica o discurso de Zé Dirceu proferido no ato em desagravo ao PT. Segundo ele, Zé Dirceu agiu como se estivesse no alto de um ônibus discursando contra a ditadura em 1968 e não como membro do governo em 2005. Também acho. Aliás, a imprensa também poderia parar de se comportar como se estivéssemos em 1964.

Pelo menos
“Eu acredito em Roberto Jefferson – PTB” era a frase estampada nas camisetas distribuídas ontem, antes do início da reunião do diretório nacional do partido. Idéia da filha dele, vereadora carioca pelo mesmo partido.
Memória curta
Segundo o príncipe D. Fernando, o Desejado dos Trópicos, o mensalão é "uma invenção contemporânea", porque nunca houve "qualquer tipo de prática similar no Brasil".

Lição de casa

"Batuta Musical" - outra missão.

Volume total de músicas em meu computador:
Você deve estar brincando.

O último CD que comprei foi:
África Brasil, Jorge Ben. Salve simpatia!

Música tocando no momento:
De forma a preparar o espírito para responder a próxima pergunta, o que exige uma certa solenidade, estou ouvindo A Cavalgada das Valquírias, do Wagner.

Vinte músicas que eu ouço bastante, ou que significam muito pra mim:
Como não temos controle sobre aquilo que ouvimos bastante (exemplo, Festa no Apê), prefiro as musícas que significam muito.

1) Strictly Genteel, Zappa – seria hino nacional do meu país fictício.
2) Amor, Secos & Molhados – “simples e suave coisa/ suave coisa nenhuma”.
3) Beatles. (Particularmente, In My Life. Parece um trocadilho idiota, mas é justamente porque me traz boas lembranças).
4) Take Five, Dave Brubeck Quartet– (“Jazz is not dead. It just smells funny” – Zappa)
5) This Friendly World, R.E.M., Andy Kauffman e Tony Clifton – definitivamente, uma música alegre (e engraçada).
6) Rush – músicos virtuosos e inteligíveis.
7) Bamboozled by Love, Zappa – a versão ao vivo dessa música com a base de Owner of a Lonely Heart do Yes é divertidíssima.
8) O cd Run Devil Run do Paul McCartney. Com David Gilmour (guitarra – Pink Floyd) e Ian Paice (bateria – Deep Purple). Quando meu sobrinho me perguntar o que é Rock ‘n Roll, vou responder com esse álbum.
9) Elis Regina – pelo inigualável vigor nas interpretações.
10) Guardanapos de Papel, Milton Nascimento – porque eu choro.
11) Whole Lotta Love, Led Zeppelin – quatro monstros. Deve ser mesmo coisa do Demônio.
12) Sofa nº 1, Zappa – um dia ainda vou ouvir essa música num casamento ou formatura.
13) Paranoid, Black Sabbath – todas as versões: a original, ao vivo com Ozzy Osbourne e Randy Roads e a do Megadeth.
14) Thick as a Brick, Jethro Tull – o álbum tem uma única música e lembra aquela Coleção Disquinho.
15) Chico Buarque – até eu, minha filha.
16) Karnak – bons músicos, bom humor, boa pedida.
17) A trilha sonora de Cães de Aluguel.
18) O álbum Playboy & Playgirl do Pizzicato Five – a prova de que podemos nos divertir sem entender absolutamente nada do que estão cantando.
19) White Stripes – podem me apedrejar.
20) Watermelon in Easter Hay, Zappa. Ou melhor, todas do Joe’s Garage. Aliás, tudo o que ele fez. Sempre. Amém.

Cinco (cinco?) pessoas pra quem eu passo a "Batuta Musical":
Os blogs indicados por Garatujas vão dar conta. Eu estou pensando mesmo nas pessoas com as quais terei que me reconciliar depois dessa lista.

quinta-feira, junho 16, 2005

Como óperas

“Sessões de CPIs e comissões como a de Ética ouvindo o Roberto Jefferson são um pouco como óperas: períodos alternados de melodrama e tédio entrecortados por uma ou outra ária memorável. A ária de Roberto Jefferson na terça foi muito boa. Certamente animada pela possibilidade de realizar o sonho secreto de todo tenor, que é o de derrubar o teatro com sua voz.”
(L. F. Verissimo)

quarta-feira, junho 15, 2005

Futebol... fazer o quê?

Por sorte, consegui um tempo nesta tarde e assisti à partida entre Alemanha e Austrália pela abertura da Copa das Confederações. Tudo bem, é um torneio inexpressivo, um verdadeiro caça-níqueis, etc, mas não custa nada dar uma espiadinha nos estádios onde serão jogadas as partidas da Copa do Mundo ano que vem. O novo estádio construído em Frankfurt, por exemplo, onde ocorreu a partida, tem capacidade para 60 mil pessoas, estacionamento subterrâneo, um telão principal como aqueles dos ginásios da NBA e... é um espetáculo. E antigamente eu achava que tínhamos condições de sediar uma Copa.
* * *
O futebol alemão é difícil de agüentar. A seleção alemã joga de maneira tão burocrática quanto a seleção inglesa mas sem a mesma elegância. Pelo contrário, enquanto os ingleses parecem jogar pólo, os alemães atuam como os tanques das divisões Panzer. E o pior é que funciona!

* * *
Nos poucos jogos em que vi Oliver Kahn atuar, ele não foi bem. Aliás, foi péssimo. Hoje de novo. E olha que ele já foi considerado um dos melhores do mundo. Quem sabe eu não esteja prejudicando o infeliz. Vou deixar de assistir aos jogos da Alemanha para ver o que acontece.
* * *
Juan e Roque “Rúnior” que formam a dupla de zaga do Bayer Leverkussen e o Lúcio que joga no Bayer de Munique são considerados ídolos na Alemanha pelas respectivas torcidas. Claro, se não como é que iria sair gol no campeonato?
* * *
Última: ano de centenário não fez bem para clubes de futebol. Tivemos o (triste) caso do Flamengo e dessa vez nuestros hermanos do Boca Juniors. Desempenho pífio no campeonato argentino e despedida melancólica (depois da surra em Guadalajara) com confusão em La Bombonera. Há gente dizendo que é tudo culpa daquela camisa comemorativa que lembra a do River...

Quadrinhos - Bob Thaves

Sugestão

Nas próximas eleições, a esquerda CVV não deveria lançar candidato a nada e votar em bloco no PFL para assim criar as "condições objetivas" da Revolução.

terça-feira, junho 14, 2005

Esclarecimentos

Acredito que muitas brasileiros adotaram "libertarian" como orientação política no orkut equivocadamente, imaginando se tratar de "libertário". Mas em inglês, "libertarian" designa a extrema direita americana (aquela que ainda acredita que os comunistas mandam mensagens secretas via embalagens de cereais matinais e que se precisar pega em armas contra o governo - qualquer governo) e sendo assim, "very libertarian" por aqui estaria mais próximo da UDR do que do MST.
Culpa de uma tradução apressada, sem dúvida. Mas quem me explica por que nessa crise do governo tanto a direita reumática quanto a esquerda CVV ("Caminho, Verdade e Vida") se refestelam fazendo cara de "viu como é tudo igual?"?

Não pula ainda

Se você acha que está tudo perdido, aconselho a leitura da entrevista publicada na Carta Capital desta semana que minha querida amiga fez questão de republicar. Com grifos e tudo!
Vai lá e prestigia, pô!

domingo, junho 12, 2005

Dasluminismo II

Como previsto, o Dasluminismo continua conquistando corações e mentes:

"A corrupção é um mal do povo brasileiro! Está na nossa genética ruim, feita com imigrantes, um povo degradado. As pessoas de Portugal que vieram eram as que mais atrapalhavam. Depois chegaram os outros imigrantes, já tentando impor mais respeito. Começou tudo errado."
(Raul Rei Lear Cortes, ator, na inauguração da Daslu)

Dasluminismo

Anote aí, 08 de junho de 2005. Em pouco tempo, essa será uma data tão importante para os brasileiros quanto o 04 de julho para os estadunidenses. Nesse dia, testemunhamos (contra a vontade, porque somos ignorantes) um acontecimento singular na História: a inauguração do maior templo nababesco de consumo do mundo e de quebra acompanhamos o nascimento de um movimento intelectual genuinamente brasileiro: o Dasluminismo.
Não bastasse incutir o bom gosto e o luxo nos hábitos da patuléia, Eliana Tranchesi, a proprietária do colossal empreendimento, filosofa e nos brinda com sua sabedoria em todas as inúmeras entrevistas concedidas semana passada para celebrar o magnífico evento.
Acompanhe (entrevista concedida a Luciana Garbin e publicada em OESP de 05 de junho):
Obs: a entrevista a seguir é real. Qualquer semelhança com personagens e obras de ficção como Quanto Vale ou É por quilo? é mera coincidência.


O Brasil é um dos campeões de desigualdade social. Incomoda ser dona de um templo do luxo?
Não. Primeiro, porque não sou responsável pela desigualdade, muito pelo contrário. A gente tem uma creche, que, atenderá, neste prédio, a 200 crianças. Praticamente todos os filhos dos funcionários - tão bem assistidos quanto os meus filhos. O seguro-saúde dos empregados é o mesmo que meus filhos têm. Eles têm vida digna. São 1.200 pessoas que podem comer aqui, têm espaço para fumar, descansar, tomar sol, têm quadra de esporte... Tem sabe o quê também? O olho no olho, atenção. Todo mundo aqui é muito bem tratado. E eu faço a minha parte, pago todos os impostos e acho que a gente acabou com a evasão de divisas. Só para consertar roupa, dou emprego para 150 costureiras. Não me sinto culpada e acho que a geração dos meus filhos é muito mais consciente dos problemas no Brasil. Não adianta reclamar, a gente tem de fazer.

Como surgiu a idéia da creche?
Eu tinha uma copeira, a Lindomar, que servia café. Numa segunda-feira, ela faltou. A irmã veio e contou que o filho dela de 15 anos tinha sido assassinado no fim de semana. E que a filha de 9 anos não podia ir sozinha para a escola, por causa da violência. Resolvi começar a creche. Começamos com 25 crianças. Hoje, damos capoeira, balé, computação, inglês, dentista, fono. E estamos estudando a possibilidade de, a partir do próximo ano, ser escola.
O que significa esse império?
Acho que é obra de Deus. Tudo aconteceu no tempo certo. Inclusive o problema na Vila Nova. Na época, eu pensava: não é possível, meu Deus, eu, com 600 empregados, e o Contru procurando motivos para fechar a Daslu! Agora, vejo que tudo foi para o bem, foi para uma obra maior.

Haja tapete

(texto do Verissimo publicado quinta-feira, dia 09 de junho.)

Estava certo que o PT não mudasse a política econômica do governo anterior, mas poderia ter mudado pelo menos a sua decoração de interiores. Não mudou. Manteve o grande tapete para baixo do qual o governo passado varreu todos os seus escândalos e ameaças de CPIs inconvenientes. Pode ter se impressionado com a sua útil grandiosidade. Afinal, um tapete capaz de cobrir todas as suspeitas inexplicadas de um processo como o da privatização das telecomunicações - um dos maiores negócios do mundo, na época, gerador de maracutaias também gigantescas - sem que ficasse aparecendo um calombo, não é de se jogar fora, ou trocar por carpetes funcionais. O PT talvez só esteja se perguntando por que o tapetão milagroso funcionou para abafar o caso dos votos comprados para a reeleição do Fernando Henrique, além de casos amazônicos como o das teles e outros, e não funciona com ele.
A pergunta seria ingênua.
Nem é preciso recorrer a mais uma piada sobre a circunferência do Roberto Jefferson para concluir que faltaria tapete para esconder o volume de escândalos que ele protagoniza, promove e sugere. Também é uma questão de classe: o governo anterior era de gente fina, que merecia os privilégios de um tapete acomodador sob os seus pés, mesmo sujos. Já o que não falta agora é indignação do patriciado com a invasão do governo por lulas e afins, que literalmente não sabem onde pisam e não combinam com a decoração. Não fosse por um detalhe, o que estaria em curso hoje no Brasil seria um clássico golpe conservador, como todo o seu arsenal de moralismo seletivo e denuncismo dirigido, contra um inadmissível governo de esquerda.
O detalhe que falta, claro, é o governo de esquerda.No fim, a explicação que tem de ser dada não é a dos suspeitos para os jornais e as CPIs, é a do PT para os seus militantes e eleitores, para aquele cara acenando sua bandeira vermelha na esquina, sozinho, de graça, porque acreditava e confiava. E o que precisam lhe explicar é por que mágica seu voto no PT deu num Roberto Jefferson com tantos poderes no governo, inclusive o de derrubá-lo.

quinta-feira, junho 09, 2005

Eliminatórias


Nunca fui adepto do "uma imagem vale mais do que mil palavras". Mas respondendo a pergunta...

quarta-feira, junho 08, 2005

No conto

A Ovelha Negra, Italo Calvino relata a história de um país muito curioso onde todos os seus habitantes eram ladrões e ganhavam a vida roubando uns aos outros. Todas as noites, os ladrões saíam de suas casas para roubar e quando voltavam, encontravam suas residências saqueadas. Trapaceavam no comércio dos produtos do roubo. O governo roubava os súditos, que por sua vez, sonegavam impostos. E viviam em paz pois não havia diferenças entre eles. Até que um dia apareceu um homem honesto.
O homem honesto não saía de casa para roubar e justamente por isso, acabava impedindo que alguém a roubasse. Ou seja, no dia seguinte, uma família ficava sem ter o que comer. Sabendo disso, então, o homem honesto passou a se ausentar de sua casa. Quando voltava, sua casa estava devidamente arrombada. Seus bens duraram uma semana.
Tal comportamento gerou um grande problema porque sempre que alguém voltava de um roubo, descobria sua casa intacta. Gradativamente, os que não eram roubados se tornaram ricos e não queriam mais roubar. E também se ausentavam de suas casas aumentando a confusão, pois os ricos logo perceberam que se continuassem sem roubar ficariam pobres. Então, contrataram os pobres para roubar por eles. Como ainda viviam num país de ladrões, também roubavam uns aos outros nos contratos de trabalho. E como sempre os ricos ficavam cada vez mais ricos e os pobres mais pobres.
Os ricos mais ricos não precisavam roubar e mandavam roubar apenas para continuarem ricos. Se parassem de roubar, ficariam pobres porque seriam roubados pelos pobres. Por isso, contrataram os mais pobres para defenderem suas posses dos pobres, instituindo a polícia e as prisões. No antigo país dos ladrões não se falava mais em roubar ou ser roubado, mas de ricos e pobres.
O homem honesto morreu de fome.

Allons enfant de la patrie...

Além de todos os resultados políticos, econômicos, sociais, culturais, etc, etc, etc, a Revolução Francesa também nos legou um acervo inesgotável de boas histórias. Por causa do clima dessas últimas semanas, duas delas não me saem da cabeça.

1) Após a tentativa malograda de fuga em Varennes, a tensão tomou conta de Paris. Enquanto a multidão enfurecida aguardava o retorno do rei traidor, o desavisado conde de Dampierre decidiu recepcionar e saudar a volta de Luís XVI. Foi assassinado pelos camponeses.

2) Durante o Terror, prevendo os rumos que a Revolução tomaria, Robespierre teria afirmado: “César virá”. Não deu outra.

sábado, junho 04, 2005

Impávido colosso

Radar Social pesquisa publicada esta semana pelo IPEA:

"Em 2003, do total de habitantes que informam sua renda, cerca de um terço (31,7%) é considerado pobre - 53,9 milhões de pessoas -, vivendo com renda domiciliar per capita de até meio salário mínimo (R$ 240,00 - entre abril/2003 e abril/2004). Quanto aos muito pobres (ou indigentes), com renda domiciliar per capita de até um quarto de salário mínimo, a proporção é de 12,9%, ou 21,9 milhões de pessoas."

Deixa que eu te ajudo

Se sua consciência pesasse, você venderia ela por quilo.
(Malvados, ano 2, diário, número 518)
Assistir Quanto vale ou É por quilo? de Sérgio Bianchi não é um bom programa. Se você concorda com a tese dele, não fica satisfeito. Se você discorda, fica ofendido. Incomoda o tempo todo: desde a maneira como ele filma, os diálogos, a direção dos atores, até a maneira pela qual ele critica as ONGs.
Antes de continuar, quero deixar claro que concordo com a tese do filme: ONGs mercantilizam a miséria, sim, e prometem resolver problemas sociais através de iniciativas individuais, ponto, desculpem. É um fenômeno de privatização de problemas que o setor público não consegue (porque não pode, não sabe ou não quer) resolver. Como em todo os outros processos de privatização, a contrapartida é a mesma: incentivos e isenções em troca de eficiência, responsável pelos dividendos, etc. E no "deixa que eu te ajudo" nacional há um pouco de tudo: lavagem de dinheiro, expiação de culpa, má fé, messianismo e uma certa dose de bom mocismo mesmo. Perfeitamente dispensáveis, obrigado.
Porém, essas questões ficam pairando entre os personagens do filme e o diretor não aprofunda nenhuma delas. Quando tenta, apresenta os conflitos de maneira esquemática, por exemplo, ao comparar escravos e miseráveis ou o capitão-do-mato com o justiceiro de periferia. Por outro lado, Bianchi acerta a mão quando trata do sistema carcerário brasileiro e da atuação daquela instituição melhor preparada e mais experiente no exercício da função de capitão-do-mato. E apenas porque um dos personagens diz que sequëstro também é distribuição de renda não significa que Sérgio Bianchi concorde com ele.
Quanto vale... não tem a mesma consistência de Cronicamente Inviável, mas nem por isso deixa de cumprir sua função de incomodar.