terça-feira, agosto 30, 2005

Anos 80

1) Quem diria, José Sarney defendendo o governo Lula em discurso no Senado? Ninguém pode acusá-lo de traição, muito pelo contrário, afinal, conservadores e progressistas nunca tiveram problemas de convivência por aqui. E como celebrar os anos 80 virou moda, tivesse ele iniciado seu discurso com “brasileiros e brasileiras”, teríamos chegado ao auge da onda nostálgica no Brasil.

2) Os EUA também são assombrados pelos anos 80. Semana passada, o televangelista Pat Robertson, outro ícone da época, defendeu o assassinato de Hugo Chávez. Relembrando a maneira Ronald Reagan de resolver conflitos e o atual modelo Bush Jr., Robertson acrescentou ainda que a Venezuela de Chávez transformou-se em “base de lançamento para a infiltração comunista e do extremismo islâmico”.

3) "Porque a gente vai se ver livre dessa raça, por, pelo menos, 30 anos" – o “encantado” senador Jorge Bornhausen, relembrando um estilo da época, provavelmente de bacamarte na mão.

4) Tempo estranho o nosso em que as pessoas suspiram pensando em como era feliz uma época conhecida por “década perdida”.

Justiça

Já passou da hora de Duas Fridas entrar para o Leia, Leia.

segunda-feira, agosto 29, 2005

"Criança diz cada uma - volume 2"

Esses textos deveriam constar de um livro em homenagem a Pedro Bloch:

Brincar de viagem

Enquete

Kellen: Nini, qual comida você mais gosta?
Nicole*: Chiclete!
Kellen: Não, eu disse COMIDA...
Nicole: Pirulito!

*Nicole: minha sincera priminha de 10 anos.


Duas Fridas

Proto-feminista

Minha mãe iniciou a neta nos mistérios religiosos: foi ela quem apresentou papai do céu à minha filha, mostrou a imagem de Nossa Senhora, ensinou a fazer o sinal da cruz. A Júlia, por sua vez, também tem suas lições. Por insistência dela, agora a avó reza:
''Em nome do Pai, da Mãe, do filho e do Espírito Santo, amém.''

Helena Costa

sexta-feira, agosto 26, 2005

Gota d'água III

Agora me dei conta que o título dos textos anteriores é o mesmo da música do Chico Buarque, coincidência ou não, outro que anda sendo cobrado por seu apoio histórico ao PT.

Gota d'água II

Uma chave para entender a má vontade para com o Verissimo é lembrar que ele já era um cronista consagrado quando o tucanato chegou ao poder. Admitiu modestamente em entrevista que suas posições políticas alcançaram notoriedade apenas porque criticava Fernando Henrique quando todo mundo estava a favor.
Como ele tinha razão, ninguém encheu muito. Mas a raiva não passou.
* * *
"Já disse que não aceito minha indicação para presidente da República, se convocado não concorrerei, se concorrer não farei campanha, se ganhar não tomarei posse, e se tomar posse farei um festão... Mas, por via das dúvidas, tenho observado o comportamento de pessoas para um eventual aproveitamento no meu governo. Li na Veja que o Éfe Agá não me lê. Não será mais meu embaixador em Portugal. E, para o tempo que ele ganha não me lendo, sugiro que leia um autor que ambos admiramos: Fernando Henrique Cardoso. Vi também que o Roberto Campos me lê, me acha ridículo, mas gosta. Ministério do Bem-Estar Social."
(LFV, 12.09.95)
* * *
Reconheçamos, parecer mais execrável que o Roberto Campos não é para qualquer um.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Gota d'água

O Terror Branco continua. Que a crise encurralou o governo, dissolveu o PT, desmoralizou a esquerda e o ânimo dos simpatizantes e ainda detonou a tampa do bueiro onde se escondia parte do pensamento progressista à brasileira, a gente já sabe. Isso a gente agüenta. Mas até o Verissimo virou alvo dos rancores represados desde a eleição do Lula!
Hoje, Verissimo anunciou a morte da Velhinha de Taubaté e Ricardo Noblat transcreveu a crônica em seu blog. Diversos comentários são ataques pessoais terrivelmente mal-educados contra o autor e suas posições políticas. O mais sensato, não ler os comentários e evitar mais problemas gástricos, sequer passou pela minha cabeça.
Acabou o fair play.

quarta-feira, agosto 24, 2005

Coerências

O foguetório que fizeram diante do pronunciamento do Palocci também é requentado. Desde o começo o homem está lá para dizer que não se mexe com time que está ganhando.
* * *
A oposição que acusa Lula de fazer tábula rasa do passado é a mesma que acusa o PT de inaugurar um modelo inédito de corrupção no país.

domingo, agosto 21, 2005

Currículo

"A mídia livre e atuante, além de estar financeiramente quebrada, é exatamente a mesma que apoiou o golpe de 1964 e o golpe dentro do golpe de 1968. E se entregou, sem maiores resistências e com raras exceções, à autocensura durante a ditadura. E lutou contra a campanha das Diretas Já. E promoveu Collor para impedir a vitória do Sapo Barbudo. E fez de Fernando Henrique Cardoso o demiurgo dos conservadores do Brasil com o mesmo intuito. E celebrou o engodo eleitoral de 1999 e a quebradeira que se seguiu."
Mino Carta (Carta Capital, nº 355).

quarta-feira, agosto 17, 2005

Duas de blogs

Fazendo Gênero

Campanha "Namore uma mãe solteira"

Diretrizes básicas:
1) Nós não temos pressa de casar, porque já temos filho
2) Nós não temos pressa de ter filho, porque já temos filho
3) Nós não temos tempo de grudar no seu pé, porque já temos filho
4) Se você quiser ter um filho, tudo bem, porque já temos filho
5) Se você não quiser ter filho, tudo bem também, porque nós já temos filho

Ou seja, não há contra-indicação. Estou participando do movimento com força total.

Duas Fridas

Anotação mental de uma mulher contemporânea

Ser mulher o tempo todo; mulherzinha de vez em quando; mulherão quando necessário.
The Opportunity makes the thief.

Outra da Revolução

O Terror Branco foi uma espécie de "agora é a nossa vez" dos realistas contra os jacobinos no período final da Revolução Francesa. Com a Reação Termidoriana e a execução de Robespierre, os representantes do grupo político denominado Planície (moderados, esqueçam o que escrevi, superávit primário, essas coisas) assumiram o poder e apoiaram a jeunesse dorée que se divertia caçando os jacobinos pelas ruas e podia exibir sem medo da guilhotina toda sua riqueza para uma França miserável.
No Brasil, o Terror Branco não espera a revolução. Não aconselho os simpatizantes do PT a usarem broches ou camisetas para manifestar apoio ao que restou do partido sob risco de convocação para depoimento na CPI. E a jeunesse dorée anda muito bem representada pelo ACM Neto. Que, aliás, não pode nem ser chamado de 'mauricinho' sob pena de anacronismo. O termo correto é janota.

terça-feira, agosto 16, 2005

Dois artigos

Mauro Santayana sobre a pressa da oposição.
Previsões políticas de Canrobert Costa Neto.

Decoro

Segundo José Serra, com a morte de Miguel Arraes, agora ele é a única pessoa viva a ter discursado no famoso Comício da Central em 13 de março de 1964. Perguntado se seria também o último sobrevivente da esquerda e do socialismo, José Serra desconversou. Não houve um acesso de riso porque estavam no velório.

Revelações

A entrevista de Valdemar Costa Neto concedida à Época provocou grande estardalhaço no já tenso clima político do país. Pelo grau de importância, a revista antecipou sua publicação (que costuma aportar nas bancas aos sábados) para sexta-feira. Por causa dela, diz-se, Lula teria atrasado seu pronunciamento na reunião ministerial. Na entrevista, o ex-deputado revelou que o acordo firmado durante a campanha presidencial envolvia o pagamento de R$ 10 milhões do PT ao PL para o finaciamento de campanhas estaduais do partido.
No mesmo dia, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) afirmou que as informações prestadas pelo ex-deputado eram as mesmas de uma reportagem publicada em Carta Capital em 2002.
Carta Capital não deixou por menos e publicou na edição desta semana uma matéria comparando o teor as duas matérias, afastando a hipótese de coincidência.
E mais: apresentou uma cópia de uma nota fiscal de venda de dois exemplares da edição com a reportagem em questão emitida em 05/08 e em nome do Diretório Regional do PL de São Paulo. "Com problemas de memória, teria Costa Neto recorrido a Carta Capital para melhor contar a história à Época? É o que parece" - sentencia a reportagem.

sexta-feira, agosto 12, 2005

Ah, as crianças... II

Podem me chamar de conservador, mas a proposta de plebiscito entre professores, pais e alunos da rede municipal de ensino sobre a adoção de patrocínio nos uniformes escolares é tão absurda que chega a ser ofensiva. Calma, acredito que a participação dos pais e professores na decisão é importante e desde que fosse ampliada para outras pautas, seria um primeiro passo na aproximação da comunidade com as escolas. Entretanto, quem me explica a participação das crianças numa decisão como essa?
O secretário de Educação teve a audácia de realizar uma pesquisa com 60 alunos da 3ª série e 99% deles aprovam a idéia. Tudo bem, não é uma base de cálculo sólida para apontarmos uma resultado definitivo. Mas esse súbito ímpeto democrático, e sua decisão histórica de incluir os pequenos na decisão, já dão a mostra do tipo de acordo que se quer alcançar.
Se a participação dos alunos se concretizar (o plebiscito deve ocorrer em setembro), vou torcer para que as crianças tomem gosto pela coisa e comecem a exigir Mc Lanche Feliz na merenda. Com cachorrinho e tudo.

quarta-feira, agosto 10, 2005

Nacionalismo

Em defesa do anonimato nativo, apaguei dois comentários do texto anterior porque eram "spams in English, for sure".

domingo, agosto 07, 2005

Ah, as crianças

Como lembrado em Garatujas, algumas frases de A fantástica fábrica de chocolates são verdadeiros achados.

Willy Wonka: Se o senhor tivesse que escolher uma das metades de seu filho, com qual ficaria?

ou

Willy Wonka: Venha viver comigo na minha fábrica. Você será meu herdeiro.
Charlie: Mas, e a minha família? Posso levar minha família?
Willy Wonka: Não. Mas considere isso um prêmio extra.

Na frente da televisão II

– Não dá mais para confiar nos políticos. Mas ainda bem que nem tudo está perdido né, filha? Olha esse aí: ajuda as crianças carentes, preocupado com os adolescentes, estimula a inclusão digital dos idosos... taí, na próxima eleição vou votar nele.
– De quem você está falando?
– Desse que não pára de aparecer na tevê, ó. Qual o nome dele?
– Pai, esse é o Didi.

Na frente da televisão

Trilha sonora

Na novela das oito, Soy Loco por Ti, America na voz de Ivete Sangalo e A Horse with no Name de uma banda chamada... America. A novela das seis tem como tema de abertura a música homônima de Fábio Júnior. Não faltam argumentos para a carência de originalidade.
Figurino
Um amigo chamou a atenção para outro detalhe da CPI: como os deputados se vestem mal. É um festival de gravatas espalhafatosas, camisas medonhas e ternos sem corte. Já que não podemos interferir no texto, exigimos bom gosto.
Coadjuvante
Antes de inquirir José Dirceu na Comissão de Ética, Edmar Moreira (PL-MG) acusou os deputados de exibicionistas, bando de delatores e alcagüetas. Inconformado com as insistentes negativas de Zé Dirceu, o deputado mineiro lançou mais uma obra-prima da oratória política nacional: "É incrível, mas não é crível".

sexta-feira, agosto 05, 2005

Para variar

'Schadenfreude' explica - Verissimo
Deve haver uma grande palavra em alemão que signifique 'há uma grande palavra em alemão para tudo'. Por exemplo: não existe em outra língua - talvez por pudor - um equivalente ao alemão ´schadenfreude´, que quer dizer sentimento de prazer com a desgraça dos outros. Uma versão brasileira da palavra está fazendo falta na cobertura desta crise. Desde que surgiram as primeiras revelações da lambança em que o PT se meteu, um ´schadenfreude´ generalizado tomou conta do País. O PT não está pagando só pelo que fez, está pagando pelo que era, ou dizia que era, e o tamanho e a alegria do ´schadenfreude´ à sua volta são proporcionais à sua antiga pretensão à superioridade moral.Mas também se festeja a desgraça do PT como uma derrocada terminal da esquerda, da qual não sobraria vestígio depois de tudo isso acabado. É o ´schadenfreude´ ideológico. Deve haver outra palavra em alemão, ainda maior, para isto.
´Schadenfreude´ com ´schadenfreude´ se paga. Como alguns respingos da lambança têm atingido outros partidos e outros governos, fica-se na espera para comemorar cada nova prova de que o PT não foi bandido sozinho e que o esquemão vem de longe. Mas é uma batalha de ´schadenfreudes´ desigual. Governistas acuados não estão com ânimo para festejar o que quer que seja e o clima reinante na nação é o de arrasa-PT. As teorias conspiratórias ficam cada vez mais débeis, embora eu ainda defenda minha favorita, a de que se trata de um golpe de radicais do próprio PT que querem derrubar Lula e Palocci e colocar José Alencar na presidência. (Finalmente um governo de esquerda!) E a idéia de uma conspiração conservadora peca por inconsistência semântica. Conspiração que dizer movimento à margem da normalidade contra um poder estabelecido. Como a normalidade é hoje o que sempre foi, a direita com o poder não importa quem esteja no palácio, conspiração conservadora é um oxímoro, minha outra palavra difícil do mês.
Quando o Fernando Henrique disse que seu governo agora pertencia à História e portanto não cabia investigá-lo, estava falando da História como um refúgio, com blindagem permanente contra ameaças retroativas. Com toda a razão. A comparação da história do Brasil com uma espécie de asilo para o patriciado, à prova de remorsos, é irretocável. Assim tem sido desde o primeiro Pedro (o Alvares Cabral).
Como não é do patriciado, Lula não terá direito ao conforto do esquecimento, quando também virar história.
Nosso consolo é que não deve existir uma palavra em alemão mais expressiva, para tudo isto que está acontecendo, do que 'lambança'?
(OESP, 04/08/2005)

terça-feira, agosto 02, 2005

Condição

Roberto Freire vive dizendo que o presidencialismo é uma forma de governo atrasada e que já passou da hora de discutirmos a adoção do parlamentarismo no Brasil.
Apoiado. Se ele arranjar um eleitorado inglês, deputados ingleses e a monarquia inglesa, a gente providencia o Parlamentarismo.

Quadrinhos - Bob Thaves

OESP (01º/08/2005)