segunda-feira, outubro 31, 2005

Passe adiante


[charge de Maringoni para o site da Agência Carta Maior]

domingo, outubro 30, 2005

O momento oportuno

Sou incapaz de elaborar uma lista de dez livros mais marcantes. Porque se não chegarem a dez, passo por ignorante e se ultrapassarem dez, parecerei um esnobe. No fundo, não quero escolher os dez e me arrepender uma semana depois quando o estrago estiver feito.

- Sidney Sheldon?

- Eu posso explicar.

- Credo!

* * *

Memórias Póstumas de Brás Cubas certamente entraria para a lista. As inovações e o fino humor machadiano esculpiram capítulos antológicos como O Velho Diálogo de Adão e Eva. Ou como o capítulo seguinte intitulado O Momento Oportuno, no qual Brás Cubas se pergunta o porquê de seu caso com Virgília não ter vingado da primeira vez e anos depois estarem apaixonados. Uma vez que não aparentavam diferenças substanciais em relação ao que foram, ele deduz que aquele se tratava do momento oportuno. Afinal, a oportunidade também faz o amor.

De forma análoga, nesse final de semana corre uma história contada por dois ex-assessores, um dos quais já havia envolvido membros do governo em outras denúncias, recheada de acusações contra um partido, um governo e um país estrangeiro pelos quais nunca se nutriu qualquer simpatia, publicada pelo semanário ícone da responsabilidade e ética jornalísticas na mesma semana em que a oposição desceu do salto e declarou guerra aberta ao governo.

Não apenas "parece verossímil" como também muito oportuno.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Desaforos

Sabe aquele coronel reformado que morava na sua rua, na casa cujas janelas eram os alvos involuntários das bolas de futebol da criançada? O que distribuía impropérios contra os jovens audaciosos que pulavam o muro atrás da pelota e ameaçava atirar, soltar os cachorros ou chamar a polícia? Aquele que quando alcançava a bola invariavelmente dava um fim nela? Lembra que mesmo nos poucos dias em que não havia mais bola para a molecada chutar, as janelas da casa dele continuavam misteriosamente se quebrando?

segunda-feira, outubro 24, 2005

Inculta e só II

Já que a desculpa era a comunicação na Internet, a prefeitura poderia ter economizado em caracteres e conquistado a simpatia dos adolescentes mudando o nome da cidade para Fox du Iguaxu. Coerência, gente!

Manchetes

OESP: Maioria dos brasileiros diz 'não' à proibição das armas
FSP: Brasil não proíbe venda de armas
DSP: País rejeita proibir comércio de armas
JT: Maioria escolhe o 'não'
O Globo: Por um Brasil com armas
JB: Recado do medo e da descrença
O Dia: Sem segurança, brasileiro aprova compra de armas
CB: E o povo disse "NÃO"
ZH: A vitória do 'não'
*TFV: Fezes!

sexta-feira, outubro 21, 2005

Inculta e só

Mário Lago disse certa vez que a letra x era inútil e defendia sua abolição da língua portuguesa. Segundo ele, como a letra x não tem som nenhum, as palavras grafadas com x poderiam ser substituídas por outras letras, acabando com as dúvidas e erros tão freqüentes. Levaria um tempo para nos acostumarmos com 'ezame', 'chícara', 'tóracs', 'esperiência' e 'mássimo', mas tudo pelo bem de nossas crianças.
Maior que o bom humor e o requinte de Mário Lago no trato com a língua apenas a estupidez da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu que nessa semana aprovou a mudança do nome para Foz do Iguassu. Os autores do atentado querem facilitar a comunicação virtual da cidade e aumentar seu potencial turístico porque, como se sabe, endereços de páginas na internet não aceitam acentos e cedilhas e com a medida evitam o constrangimento de escrever a palavra 'Iguacu' em correspondências eletrônicas oficiais.
O sociólogo José de Sousa Martins explicou para a reportagem de OESP que o sufixo tupi 'açu' significa grande, Iguaçu significa rio grande e Iguassu não quer dizer nada. 'Iguacu' também não. Mas entre o desconforto de um problema menor e o predomínio da ignorância absoluta, a segunda ganhou por 8 votos a 4.

quinta-feira, outubro 20, 2005

Retóricas

Em O Grande Ditador de Chaplin, no encontro entre Hynkel e Napoloni há uma cena famosa em que os dois aparecem sentados lado a lado procurando uma posição superior em relação ao outro através das alavancas das cadeiras. Para demonstrar sua força e olhar o adversário de cima, os dois apostam uma espécie de corrida. Não lembro como a cena termina, mas certamente não era com uma discussão a respeito da legitimidade do poder.
Saddam Hussein perdeu o poder, mas não perdeu a retórica e isso conta muito no tribunal. Entretanto, questionar a legitimidade do julgamento é uma medida inútil, principalmente porque do outro lado existe a retórica do poder atual. E o poder, como ele deveria saber, é sempre o poder.

"Cidadão de bem"

Ninguém agüenta mais e sei que corro o risco de tomar um pipoco (2005 é o ano do vocabulário!) insistindo nesse assunto de desarmamento. Mas o texto de Túlio Vianna no correio Caros Amigos esclarece uma dúvida antiga: o que é um cidadão-de-bem? Como ele se comporta? Etc, etc.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Revistas de História 2

Meio desmentido. A história está ficando boa. Continuaremos acompanhando.

"O ex-presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Pedro Corrêa do Lago, entregou ao Ministério Público Federal (MPF) documentos que, segundo ele, comprovam que a Livraria Corrêa do Lago renunciou ao pedido de registro da marca da revistaNossa História em outubro de 2002, portanto antes de assumir o cargo, no início de 2003. Assim, diferentemente do que o Estado afirmou em sua edição de ontem, sua empresa nunca editou a revista, que é publicada pela Editora Vera Cruz desde 2003.
'Renunciei ao nome muito antes de ser convidado para o cargo', afirmou Lago. 'A revista foi feita por um conselho editorial com os mais renomados historiadores, precisávamos apenas de um parceiro comercial, que foi a Vera Cruz. Como eles também haviam entrado com o pedido, renunciei ao nome', disse. 'E o fato de registrar o nome não me dá nenhum benefício pessoal.'
'Por causa da morosidade do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, meu pedido de cancelamento das marcas não está ainda disponível no seu site e a ação foi feita baseada nessa omissão. Já entreguei ao procurador todos os comprovantes dos pedidos de cancelamento dos nomes àquela época', informou.Ele disse que se afastou do cargo 'por razões pessoais' e a decisão já havia sido comunicada ao ministro da Cultura, Gilberto Gil, fazia dois meses."

terça-feira, outubro 18, 2005

Revistas de História

Para os leitores que se perguntam quais os motivos da separação entre a Fundação da Biblioteca Nacional e a Editora Vera Cruz que publicavam a revista Nossa História, segue uma pequena explicação que envolve as mudanças na própria Biblioteca Nacional, cuja presidência será ocupada pelo escritor e professor da UFRJ, Muniz Sodré:
(nota publicada em OESP, hoje)
Por enquanto, Muniz Sodré se recusa a comentar se vai abrir auditoria para investigar a gestão de seu antecessor, o bibliófilo e editor Pedro Corrêa do Lago.
Corrêa do Lago pediu demissão há dez dias, depois que o Ministério Público Federal (MPF) abriu contra ele ação por improbidade administrativa. Sua editora, a Livraria Corrêa do Lago, faz a revista Nossa História, que desde 2003 usava com fins lucrativos o acervo da biblioteca sem nenhuma retribuição à FBN.
Outro episódio que contribuiu para o pedido de demissão foi o furto de 150 fotografias raras - só 20 foram recuperadas. Segundo a Polícia Federal, os ladrões eram especialistas no assunto e tiveram acesso à biblioteca durante a greve dos servidores do Ministério da Cultura, entre 4 de abril e 12 de julho.

segunda-feira, outubro 17, 2005

Medo, medo

Com todos os perigos ameaçando a vida dos brasileiros (os bandidos, o MST, o comunismo, os bovinos exaltados, os frangos que espirram, etc), se a vitória do não se confirmar no referendo de domingo, todos nós, cidadãos de bem, deveríamos correr até a loja mais próxima e adquirir nosso berro.

domingo, outubro 16, 2005

Dia das crianças

Mais uma candidata a notícia do ano.

Alguma pergunta?

Feliz Dia dos Professores.

terça-feira, outubro 11, 2005

Cobradores

Precisamos arranjar uma nova função para os cobradores de ônibus da capital. Rápido. Fazer o troco e conhecer o itinerário da linha não servem. Com o bilhete único, o primeiro eles não fazem mais. O segundo, eles nunca souberam informar, não adianta. Outras.
Ainda na última gestão, a prefeitura sugeriu transformá-los em uma espécie de comissários de bordo, que comercializariam jornais e guloseimas durante o trajeto. A idéia, além de risível, se concretizada, acirraria os ânimos entre os vendedores ambulantes que costumam freqüentar os ônibus e fatalmente nos levaria para uma guerra civil de proporções desastrosas.
Não foi Boccaccio que quando estava na pior foi contratado pelo governo de Florença para recitar os versos de Dante pelas ruas? Os cobradores poderiam recitar poesia, ler trechos de romances e em pouco tempo teríamos uma revolução cultural na cidade. O inconveniente estaria na escolha dos títulos e, tomando por base o tipo de leitura que domina os meios de transporte da cidade, logo teríamos uma conversão em massa. Ou outra guerra, dessa vez religiosa. Melhor não.
Música também não é uma boa saída pelos mesmos motivos: escolha do repertório. E correríamos o risco de presenciar situações terrivelmente constrangedoras.
– Vamos lá! Todo mundo, mãozinha pra cima. Eu perdi o meu medo, o meu medo, o meu medo da chuva...
Uma razoável: ouvidor de ônibus. Ao invés da caixa, um balcão com canetas e formulários. Todas as reclamações sobre qualidade do serviço, o tempo de espera no ponto, a conservação do ônibus, a educação do motorista, entre outras queixas, seriam devidamente anotadas pelo ouvidor, assinadas pelo passageiro, que receberia uma cópia, e encaminhadas para a SPTrans, já que aquele telefone está sempre ocupado!

sexta-feira, outubro 07, 2005

Plebiscito II

Os melhores artigos sobre o plebiscito até agora. Clica e vai.

quinta-feira, outubro 06, 2005

Entrevistas

Gilberto Gil, no Estadão de ontem.
O que o sr. achou da carta da professora Marilena Chauí aos seus alunos,na qual ela comentava achar difícil transmitir idéias e opiniões por meio da mídia?
Gostei muito. Achei interessante. Eu já vinha acompanhando, fui ao seminário que ela abriu, O Silêncio dos Intelectuais, acompanhei depois as reações. Acho que ela faz uma advertência muito pertinente da questão da falta de espaço, na mídia, para a visão pluralista, para os pequenos fragmentos. A grande mídia é um grande negócio, como todo grande negócio. Apesar de seu compromisso em informar e abastecer a opinião pública com os fatos, ela está enredada numa grande rede de interesses. Tem dificuldades, como o governo também tem. Porque a mídia seria um setor indiscutível? É preciso discutir tudo.
A atuação ou os critérios da mídia?
Atuação não depende dos critérios? E os critérios não dependem da atuação? É um setor como outro. Agora, tem essa dificuldade de autocrítica. Você vê, na própria pergunta que você me faz, tem um compromisso inercial seu, de seu jornal, de explorar uma tensão que parece mais explorável. Por isso acho interessante essa coisa que a Marilena fala, de quererem obrigar o silêncio dela a falar.
* * *
Na matéria exibida agorinha no Jornal da Globo, Christiane Pelajo entrevistou o Verissimo em Paris. Entre as amenidades a respeito de Paris e da França, uma pergunta sobre a crise política. Enfim, uma reles conversa com um simples escritor numa cidade comum para gente normal morrer de inveja.

segunda-feira, outubro 03, 2005

Plebiscito

Não

Para os partidários do ‘não’, manter o 38 em cima do guarda-roupa é um exemplo de luta pelas liberdades civis de mesma grandeza que as passeatas da campanha Diretas-Já. Se o ‘não’ vencer, teremos o salvo-conduto de lutar pelas liberdades civis à bala.
Os argumentos também alimentam a luta de classes ao afirmar que os artistas são favoráveis ao desarmamento porque vivem nos condomínios de luxo em segurança, enquanto o restante da população enfrenta a violência cotidiana sem proteção.
Devemos prestar mais atenção nos argumentos do ‘não’ e em seu potencial revolucionário.

Sim

O programa do ‘sim’ parece o Criança-Esperança.

Nulo

O discurso de ambos é tão apelativo que chega a ser constrangedor. Deve ser a falta de costume. Plebiscito é coisa nova por aqui.