Não importa o quanto você goste dos Beatles, de um deles você gosta mais do que dos outros. Deve ter alguma relação com a maturidade ou as fases da vida, mas já mudei três vezes de beatle preferido.
Como todo mundo, acho, comecei com John Lennon. Sabe como é: carismático, pacifista, revolucionário, casado com artista plástica odiada pelos amigos e musicalmente, talvez, o mais à frente de seu tempo. Nem preciso falar que a fase durou pouco. Não tem relação com o fim do sonho ou qualquer coisa muito profunda. O motivo é inexplicavelmente banal. Deixei de ouvir algumas músicas do Lennon por causa das regravações cometidas pela Simone.
Imediatamente, veio a longa fase Paul McCartney. Paul sempre pareceu mais pé-no-chão. Um cara aparentemente mais sério, compenetrado, cujo conhecimento não o transforma num esnobe, apesar de perto dele você parecer um analfabeto musical por opção. Uma pessoa incapaz, ao contrário de Lennon, de entrar numa discussão política num almoço de família. Casado com uma mulher belíssima, filho guitarrista, amigo dos melhores músicos do planeta e que tocariam com ele de graça apenas pelo prazer da companhia. Mas aí a vida prega uma das suas: a mulher morre, o cara pira, casa outra vez e não tem mais sossego. Em pouco tempo, quem tinha uma vida bastante invejável entra numa espiral de escândalos, seguida por um divórcio de proporções bíblicas que lhe arranca 25 milhões de libras.
Então, George Harrison. Sofisticado, pacifista, músico virtuoso, sensível, espiritualizado. Combinava todas as qualidades de John e Paul, mas sem a aura de sacralidade que os dois emanavam. Nunca houve uma fase George Harrison.
Ringo tinha tudo para ser um dos muitos perdedores na história do showbusiness. Entretanto, adotou um nome artístico perfeito. Seria trágico se tivéssemos que dizer John, Paul, George e Richard, certo? Ringo sabia que não tinha o mesmo talento musical, não era compositor e cantava mal. Ninguém o notaria se ele não fosse o mais feio dos quatro. Por ser comparativamente ridículo, sabia que não tinha nada a perder. Manteve a simpatia e o bom humor e com isso ficou tão rico e famoso quanto qualquer outro sem ter que pagar o preço da imortalidade. Por não se levar tão a sério, pôde se dar ao luxo de gravar álbuns razoáveis e tentar uma carreira como ator em filmes terríveis (num deles, chegou a interpretar o Frank Zappa). E ainda se deu melhor no segundo casamento: Barbara Bach, uma das mais belas bond girls.
Considero Ringo o melhor de todos. Hoje.