terça-feira, fevereiro 21, 2006

Suplicysmos

O senador Eduardo Suplicy(PT-SP) teve um dia agitado ontem. Participou de uma manifestação contra a absolvição do coronel Ubiratan Guimarães, inocentado da acusação de matar 102 dos 111 presos (não pode ser responsabilizado pelos nove mortos à golpes de faca) no massacre do Carandiru. Com outros manifestantes, o senador desempenhou papel de um dos mortos no massacre, na frente do Tribunal de Justiça de São Paulo.
À noite, o senador compareceu ao show do U2: "Vim ao show especialmente para ver Bono Vox, pelo engajamento dele na luta pela erradicação da pobreza em todo o mundo".
Nota 7,5.

Guerra das Estrelas

(sugestão e idéia original de Daniel Gonçalves)
Ao comunicar a sua “decisão amadurecida” a integrantes do grupo político que o apóia, Alckmin disse: “Quer dizer que o Serra quer unanimidade? Para ele ser candidato eu tenho que renunciar à minha candidatura? Pois então ele não será candidato. Não abro mão de disputar”. Se quiser concorrer à presidência, diz Alckmin, Serra terá de disputar com ele a preferência do partido.
- "Good, Alckmin, good! I can feel the anger fluing through your blood lines"

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Indocência

Sala dos professores.
I
- Vocês viram que Beltrano está triste porque a Sicrana está ficando com Fulano.
- Mas é claro. Você acha que a Sicrana depois de experimentar Fulano, voltaria para Beltrano? Fulano é um homem vivido. Já saiu até com mulher casada.
II
- Eu achei ótimo colocarem Fulano (outro, homônimo - provavelmente com o mesmo sex appeal do primeiro) na sala tal. Vocês viram, as piriquitas estão todas pulando por causa dele.
III
- Dona Diretora, prefiro não organizar a feira cultural na 8ª série porque não tenho afinidade com a sala.
- Afinidade? Isso não existe! Você vai organizar a feira cultural lá porque estou mandando.
IV
- Dona Diretora, como deveríamos trabalhar o tema da terceira idade com a 5ª série?
- Não sei, pensem em alguma coisa. Façam maquetes...

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Flanfo

Em setembro de 2001, por ocasião de lançamento do Houaiss, o Verissimo defendeu a publicação de um Dicionário Reivindicativo da Língua Portuguesa que seria composto por palavras que não existem, mas que deveriam existir. Por exemplo, um adjetivo como rechechê (sinônimo de elaborado, prolixo, preciosista) descreveria de maneira exata os modos de nosso ex-presidente. Outra: Flanfo (definição para 'sujeirinha de umbigo') seria um ótimo título para uma auto-biografia.
Naquele mesmo mês e ano ocorreu o ataque terrorista contra o WTC. No dia do atentado, estava dando aula numa sala de 3º ano do Ensino Médio, quando a diretora da escola entrou esbaforida pela sala, quase aos berros:
- Professor! Leve os alunos até a sala de vídeo! Nos Estados Unidos, um acidente com um avião acabou de derrubar o Empire State!
(lembrança inspirada por um texto da Monix, publicado hoje em Duas Fridas)

terça-feira, fevereiro 07, 2006

"É somente requentar, e usar"

"A destruição do passado - ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas - é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem num presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. Por isso os historiadres, cujo ofício é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se mais importantes do que nunca no fim do segundo milênio. Por esse mesmo motivo, porém, eles têm de ser mais que simples cronistas, memorialistas e compiladores."
(HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos. SP: Cia.das Letras, p.13)
Em 14 de julho passado, o senador Arthur Virgílio afirmara da tribuna “Estou dizendo aqui, na melhor das hipóteses, senhor Lula, o senhor é um idiota; na pior, o senhor é um corrupto”. Naquela semana, dia 12 de julho, os jornais publicavam uma pesquisa apontando um crescimento da popularidade de Lula, mesmo com todas as denúncias de corrupção que assombravam o planalto.
Na semana em que a revista Isto É publicou matéria de capa com o ex-presidente e sua frase "A ética do PT é roubar", FHC também concedeu entrevista ao programa Roda Viva de ontem, na qual afirmou a respeito do esquema de compra de parlamentares da base aliada: "Ou (Lula) é muito ingênuo, portanto não estava preparado para ser presidente, ou ele sabia, o que é pior ainda". Domingo, dia 05, o Datafolha publicou outra pesquisa mostrando um crescimento na popularidade do presidente.
O que eu quero dizer com isso? Nada, nada. Sou um simples cronista, memorialista, um compilador... um cara chato, enfim.

domingo, fevereiro 05, 2006

Os intolerantes

Interessante observar os diletos defensores da ampla liberdade de expressão criticarem a reação exagerada da comunidade muçulmana contra as caricaturas do profeta Maomé, acusando-a de não compartilhar os valores da sociedade ocidental, e manifestaram apreensão com a vitória do Hamas nas eleições palestinas.
Novidade nenhuma. A repercussão da eleição do Hamas na AP e a campanha solidária pela liberdade de imprensa movida pelos jornais europeus são apenas o exemplo mais recente de uma velha tese: ninguém gosta muito de democracia. A democracia parece aquela tia solteira que todo mundo adora e acha o máximo, mas queria mesmo era que estivesse bem casada.
Ainda que a apreensão da comunidade internacional se justifique pelo histórico envolvimento do partido em atentados terroristas, deve-se lembrar que o Hamas venceu o pleito através de eleições livres e sem fraudes aparentes, como manda o figurino. Muito diferente do que aconteceu com a maior democracia do mundo em 2000. Chegando ao poder de maneira legítima e não pela via armada, o Hamas fez uma opção política e espera-se que a alternativa terrorista seja descartada. Justamente por isso, merecem algum crédito. E torcida, muita torcida.
Em artigo do Aliás de hoje, o filósofo Tariq Ramadan considerou a publicação das charges "uma forma obtusa" de analisar a questão da liberdade de expressão. Para evitar a idolatria, os muçulmanos proibem a representação da figura humana e a iniciativa de fazer uma caricatura do profeta parece uma provocação gratuita. Provocação que, segundo o filósofo, não deveria levar a reações tão emocionais da comunidade. Ramadan aponta que o mais grave nesse caso não são os inexistentes limites legais para a liberdade de expressão, mas os limites cívicos. Retratar Maomé com uma bomba no turbante não é um simples exercício do direito de opinião, mas uma ofensa a todos os muçulmanos. Em poucas palavras, é crime e tem nome: racismo.
Os muçulmanos não são menos democráticos porque não elegem os candidatos preferidos pelo Ocidente e porque não acham muita graça nas piadas que fazem sobre sua tradição, não quer dizer que lhes falta senso de humor. Estão sendo apenas coerentes. Outra coisa que as democracias ocidentais nunca entenderam muito bem.