quarta-feira, março 19, 2008

Um dos quatro



Não importa o quanto você goste dos Beatles, de um deles você gosta mais do que dos outros. Deve ter alguma relação com a maturidade ou as fases da vida, mas já mudei três vezes de beatle preferido.

Como todo mundo, acho, comecei com John Lennon. Sabe como é: carismático, pacifista, revolucionário, casado com artista plástica odiada pelos amigos e musicalmente, talvez, o mais à frente de seu tempo. Nem preciso falar que a fase durou pouco. Não tem relação com o fim do sonho ou qualquer coisa muito profunda. O motivo é inexplicavelmente banal. Deixei de ouvir algumas músicas do Lennon por causa das regravações cometidas pela Simone.

Imediatamente, veio a longa fase Paul McCartney. Paul sempre pareceu mais pé-no-chão. Um cara aparentemente mais sério, compenetrado, cujo conhecimento não o transforma num esnobe, apesar de perto dele você parecer um analfabeto musical por opção. Uma pessoa incapaz, ao contrário de Lennon, de entrar numa discussão política num almoço de família. Casado com uma mulher belíssima, filho guitarrista, amigo dos melhores músicos do planeta e que tocariam com ele de graça apenas pelo prazer da companhia. Mas aí a vida prega uma das suas: a mulher morre, o cara pira, casa outra vez e não tem mais sossego. Em pouco tempo, quem tinha uma vida bastante invejável entra numa espiral de escândalos, seguida por um divórcio de proporções bíblicas que lhe arranca 25 milhões de libras.

Então, George Harrison. Sofisticado, pacifista, músico virtuoso, sensível, espiritualizado. Combinava todas as qualidades de John e Paul, mas sem a aura de sacralidade que os dois emanavam. Nunca houve uma fase George Harrison.

Ringo tinha tudo para ser um dos muitos perdedores na história do showbusiness. Entretanto, adotou um nome artístico perfeito. Seria trágico se tivéssemos que dizer John, Paul, George e Richard, certo? Ringo sabia que não tinha o mesmo talento musical, não era compositor e cantava mal. Ninguém o notaria se ele não fosse o mais feio dos quatro. Por ser comparativamente ridículo, sabia que não tinha nada a perder. Manteve a simpatia e o bom humor e com isso ficou tão rico e famoso quanto qualquer outro sem ter que pagar o preço da imortalidade. Por não se levar tão a sério, pôde se dar ao luxo de gravar álbuns razoáveis e tentar uma carreira como ator em filmes terríveis (num deles, chegou a interpretar o Frank Zappa). E ainda se deu melhor no segundo casamento: Barbara Bach, uma das mais belas bond girls.

Considero Ringo o melhor de todos. Hoje.

segunda-feira, março 17, 2008

Discussão de relacionamento institucional

Os responsáveis por escrever os textos dos comunicados que as empresas enviam aos consumidores de seus produtos e/ou serviços passam por uma crise terrível. Uma fase muito depressiva. Barra pesada mesmo. Já foram mais austeros, mas hoje em dia estão carregados de apelos sentimentais patéticos. Os últimos que vi são humilhantes.
Uma amiga fez a assinatura de um jornal e recebeu convite para jantar num restaurante para comemorar o novo relacionamento com a empresa. Ela não paga nada, mas precisa levar um convidado que pague. Vou sugerir que ela leve os pais, para que eles descubram se as intenções do jornal são sérias.
Outras empresas sugerem produtos feitos para você baseadas num suposto conhecimento que teriam de cada um dos seus clientes. Uma loja virtual sugeriu que eu comprasse Jesus, o maior psicólogo que já existiu porque já comprei um livro do Caco Barcellos e um cd do Seu Jorge. Raciocínio cristalino.
Mas as campeãs de DR institucional, sem dúvida, são as empresas de telefonia. Dia desses, a operadora de celular ligou propondo uma mudança de plano. Recusei. A operadora insistiu em ligações diárias e nos horários mais inconvenientes, como uma obcecada querendo saber se tínhamos um namoro ou um flertezinho. Ameacei mudar de operadora e as ligações cessaram. Hoje, a operadora de celular acabou de enviar uma mensagem agradecendo a confiança e prometendo melhorar. Faltou pedir desculpas e dizer que faz isso por amor.