terça-feira, março 29, 2005

Fim de caso

- Tenho uma coisa importante pra falar.
- Hum...
- Vou embora.
- Hã?
- Eu... vou embora.
- Como assim?
- Estou indo. Daqui pra frente é comigo.
- Ficou louco? E quem vai cuidar de você?
- Ora, eu...
- Não, não! Me responde! Lembra do primeiro encontro? Quem foi correndo socorrer você naquele fim de noite, quando você estava sem gasolina, hein?
- Você...
- Quem leu e acreditou em todas as suas cartas, nas suas falsas promessas, correndo o risco de ficar falada por aí?
- Você...
- E quem depois de tanta dedicação acabou sorrateiramente abandonada? E mais uma vez, quem esperou pacientemente pelo seu arrependimento e te acolheu com os braços abertos?
- Você...
- Quem orientava nos momentos difíceis? Quem apresentava as soluções? Quem tinha a serenidade para apontar o caminho? Quem impedia você de tomar os pés pelas mãos? Quem tomava as decisões? Durante 25 anos, quem, afinal, te deu prumo nessa vida?
- Você...
- Pois então! E agora isto? Tudo bem! Vai! Mas fica sabendo de uma coisa... ai.
- Não chora!
- Eu gosto tanto de você!
- Eu sei. Mas está decidido.
- Você vai voltar rastejando! Você vai ver! Você ainda vai precisar de mim!
- Não fala assim, FMI.
- Ingrato!

domingo, março 27, 2005

Perseguição

As páginas vermelhas da Isto É desta semana trazem uma entrevista com Woody Allen, realizada por Osmar Freitas Jr. A melhor parte não está na entrevista, mas no editorial onde se conta uma história ocorrida com o jornalista em questão e que transcrevo aqui.
“Ele sempre quis entrevistar Woody Allen, com quem tem em comum um invejável senso de humor e a proximidade com a cultura judaica – Osmar é casado há mais de 20 anos com a professora nova-iorquina Dale Woogan Freitas, que é judia.
Um dos casos relatados por Osmar envolve Dale em visita ao Brasil. No radio do carro, Caetano Veloso cantando É hoje, a composição de Didi e Maestrinho, cuja letra diz... diga espelho meu, se há na avenida alguém mais feliz que eu, e na parte que fala... É hoje o dia da alegria... em vez de é hoje dia, Dale entendeu êêêôôôô judia e perguntou indignada a Osmar se Caetano e os brasileiros eram anti-semitas.”

sábado, março 26, 2005

Mocinhos e Bandidos

O TV Pirata exibia um quadro muito engraçado sobre nossa antiga capacidade de fabricar heróis de ocasião. Sempre que um personagem estava em perigo ou passava por alguma dificuldade (num deles, a Cláudia Raia não conseguia fazer seu filho comer uma tigela de mingau), o “Delegado Tuma” (Guilherme Karan, hilário) era invocado, como o Shazam, para resolver a questão. Naquela época, Romeu Tuma chefiava a Polícia Federal e personificava o modelo de super-herói brasileiro para aqueles anos difíceis marcados pela hiperinflação.
Infelizmente, a safra de heróis vem se esgotando. Se me lembro bem, a última tentativa foi malograda por dois estrangeiros: o irlandês maluco e o grego bonachão. O governo até tentou com a campanha do “não desiste nunca” mas não colou. Agora, estamos especialistas em criar os vilões.
O assustador na eleição de Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara ultrapassa seu significado imediato que é o fortalecimento da direita mais conservadora num suposto governo de esquerda (aspas, aspas!). Num país católico e de políticos extremamente personalistas, uma figura tosca como a encarnação do mal supremo é uma idéia extremamente tentadora porque desobriga todo mundo de pensar a respeito dos problemas que nos afligem.
É tudo culpa do Dr. Fu Manchu que tivermos à mão. Sem ele, seria mais fácil. O país seria muito diferente, menos desigual, mais justo, solidário, com direitos garantidos a todos e outras banalidades que povoam os sonhos de meia-dúzia de ingênuos que não aceitam o maniqueísmo nacional porque no fundo gostam de complicar as coisas.

quinta-feira, março 24, 2005

Fogos de artifício

Passados quase dois anos e meio de governo Lula, e descontado o modelo macroeconômico suicida que não mudou, temos algumas conquistas para comemorar.
Pela primeira vez na história temos que lidar com as viúvas do antigo governo. Ninguém nunca ouviu um discurso saudosista sobre o Sarney (risos) ou o Itamar (muito risos). Sinal de que as coisas caminham bem por aqui e a tal democracia está assegurada e razoavelmente madura, é o relacionamento que mantemos com o ex. Os regimes democráticos funcionam assim, faz parte das regras do jogo a sucessão no poder etc. E mesmo as viúvas podem ser interessantes, desde que não falem demais sobre o falecido. Verdade que para ajudar, ele também poderia parar de puxar nosso pé e o espiritismo jornalístico, de tentar manter contato com o Além. Mas, paciência.
Percebo também que política e governo voltaram a ser assunto de conversa. Ainda perde para unha encravada, certo, mas já ganhou de calvície e micose. As pessoas procuram se informar melhor para bater com maior desenvoltura no governo e principalmente no Lula. A classe média que votou no PT porque era in, anda arrependida e requentando os antigos preconceitos contra o presidente e seu partido. Ausente o debate político sério, por motivos óbvios, o debate amador ganha força. É melhor do que nada e é saudável.Tão saudável que até a reforma ministerial vinha sendo acompanhada por boa parte das pessoas que não iam nem em reunião de condomínio.
Por falar nisso, para aqueles que estão decepcionados com o governo, deu um certo alívio ver o Lula excluir o PP do ministério e manter a Roseana Sarney longe do Planalto. Pode ser até que a esperança tenha vencido o medo de novo, mas dessa vez foi por pontos. Não dá ainda para soltar rojões. Mas uns estalos de biribinha dá, vai?

quarta-feira, março 23, 2005

Ninguém perguntou

Quando eu crescer, quero ser o Peter Sellers.

sexta-feira, março 18, 2005

À moda da casa

Os comentários a respeito de O Último Tango em Paris são invariavelmente acompanhados de um “e aquela cena da manteiga, hein?”, frase que admite diversos significados, dependendo da entonação, dos suspiros e da quantidade de saliva produzida depois do hein.
Dificilmente alguém lembra do que Marlon Brando diz a Maria Schneider sobre a ‘sagrada família’ na famigerada cena. Enfatizar a safadeza do filme é apenas ignorar sua força dramática. O que também não deixa de ser um exemplo do moralismo nacional.

quinta-feira, março 17, 2005

Os camisas brancas

Todas as vezes que vou à dentista, lembro que o Renato Janine Ribeiro escreveu uma vez que essa é a única profissão em que existe um superávit (a palavra está mesmo na moda) entre o falar e o ouvir. Mas não encontro outra para definir minha relação com essa categoria profissional: déficit.
O tratamento geralmente custa uma fortuna e quando não se é assíduo, os problemas acumulam, potencializando seu prejuízo bucal e financeiro. E nove anos sem uma visitinha ao consultório também não é uma marca da qual alguém possa se orgulhar.
Tenho medo de dentistas. Na verdade, de todas as profissões que têm o uniforme de cor branca como padrão e não consigo entender sem esforço como alguns homens mantêm fantasias eróticas envolvendo profissionais da área de saúde, enfermeiras em especial.
Mas ultimamente, esse pavor tem sido superado por outro: tenho muito medo do que essas pessoas pensam. Costuma-se lamentar que as únicas pessoas que sabem como governar o país estão sempre muito ocupadas dirigindo táxis ou cortando cabelos, mas não devemos desprezar as possibilidades de um governo liderado por profissionais da área de saúde.
O governo perseguiria os consumidores de gorduras saturadas, álcool, cigarro, café, doces e outros combustíveis. Shopping Centers se transformariam em grandes farmácias. Móveis e colchões seriam queimados em praça pública pelos agentes do Ministério da Ortopedia. As FF (Falanges Fisioterapeutas) encurralariam os velhinhos nos supermercados e os obrigariam à extenuantes exercícios motores. Animais de estimação seriam separados de seus donos e adotados secretamente pelos veterinários para fins inomináveis. Os hipocondríacos saudariam o novo regime mas não ficariam até muito tarde na rua por causa do sereno. Acessos de espirro seriam considerados atos de subversão e a gripe tratada como questão de segurança nacional. Os presos políticos seriam submetidos à tortura mais vil: sessões de terapia gratuita. Receita Federal ganharia novo significado.
Tempos muito difíceis.

quarta-feira, março 16, 2005

Z

– General, um instante. O ministro dos Direitos Humanos...
– Onde já se viu! Para que serve um Ministério desse, hein? Já não tem a Declaração da ONU? Não está bom? Mas sabe o que é isso? Populismo! Para fazer média com intelectual. Bota aquela gente deles para bater cartão e incomodar a vida da gente com insinuações descabidas. Populismo e aparelhamento do Estado, isso sim! Sinto o cheiro de longe.
– General, por favor. O ministro quer uma parceria com Argentina, Chile e Paraguai para a abertura dos arquivos e...
– Que arquivos? Eles insistem com essa história de arquivos. Eles acham que as pessoas ficam acumulando papelada à toa. Sabe de uma coisa? Vou deixar revistarem a minha casa. Podem vir! Levem toda as minhas caixas. Assim, eles aproveitam e esvaziam a garagem. Os carros nem cabem direito. E eles também poderiam levar as minhas contas porque com essa aposentadoria especial não está dando mais.
– Nós queríamos apenas uma palavrinha do senhor à respeito do caso. Alguns membros da oficialidade reclamaram que...
– Porque ainda tem gente sensata nesse país, meu jovem! Para que gastar tanto com essa bobagem toda? Gente rancorosa e ignorante! Só para difamar e desmoralizar as instituições e gente decente? No constrangimento dessas famílias ninguém pensa? Não, isso eu não admito!
– Certo, certo. Mas parece que o ministro está empenhado nessa iniciativa para...
– Eu queria ter uma conversa com ele para saber o que ele pretende com isso. Aposto que para mim ele contava. Ah, contava...

segunda-feira, março 14, 2005

Saindo do armário

Universidade virou tema nacional. Além do debate sobre a reforma proposta pelo governo (ainda não me posicionei a respeito, mas conhecendo os interesses em conflito e sabendo que o Denis Rosenfield é contra, provavelmente sou a favor), a cobertura jornalística têm tocado em temas mais polêmicos como a questão das cotas e as cópias ilegais de livros nas universidades.
Sexta (11/03), no Estadão, a matéria intitulada Os excluídos da inclusão sobre os estudantes que “ficaram de fora para dar lugar a cotistas” tinha fotos, depoimentos dos alunos frustrados e frases de efeito. Faltou apenas uma trilha sonora para deixar a história ainda mais melodramática.
Repararam que nesse ano os jornais não procuraram “o número 01 da FUVEST”? Mas para criticar o sistema de cotas, começaram a aparecer os excluídos do vestibular. Concordo com “o Estado que dê um ensino melhor a todos”. Mas não há nada mais brasileiro do que utilizar esse argumento para reivindicar a minha vaga.
Não li o editorial do Estadão de hoje porque Efeitos nefastos das cotas parece coisa do meu avô. Mas recomendo o artigo de Marcelo Tas publicado hoje (http://link.estadao.com.br/index.cfm?id_conteudo=3040). Juro que tive a mesma idéia sobre a função natural das xerox no Brasil. Não publiquei, mérito para o Tas – que tem um texto muito melhor e humor mais apurado. Direito autoral é isso!

domingo, março 13, 2005

Vícios hediondos

Certa vez, defendendo veementemente o tabagismo e os fumantes da cruzada governamental/moralizante, o Millôr, que não fuma, sugeriu que ao invés da proibição, a indústria tabagista deveria ser obrigada a imprimir no filtro de cada um dos cigarros do maço a frase “VÍCIO IDIOTA”. Comparada com as medidas que tem sido tomadas pelos órgãos competentes, essa sugestão me parece razoável.

A proibição pura e simples atenta contra um dos direitos mais sagrados da humanidade: ser imbecil. A estratégia do Ministério da Saúde (aquelas fotos horrendas) é falha. Os fumantes temem mais os doentes do que as doenças causadas pelo fumo. A foto do rato e das baratas mortos pela ação de substâncias nocivas presentes no cigarro é inócua. Não há nenhuma evidência científica que tenham diminuído o número de fumantes nas populações de ratos e baratas desde o início da campanha. E crianças não são burras. Elas não fumam perto de adultos.

Tudo isso para falar do fantástico Sobre café e cigarros. Claro, são vícios. São execráveis como quaisquer outros mas também são os mais cinematográficos. Imagine, Iggy Pop e Tom Waits limpando cera do ouvido com grampos de cabelo? Ou Cate Blanchett tirando caca do nariz? Alfred Molina e Steeve Coogar roendo as unhas dos pés? Não dá.

Carta de intenções

Durante alguns meses mantive um blog. Misericordiosamente, apenas dois meses. Em certa época virou moda, todo mundo decidiu ter um e comigo não foi diferente. Também estou sujeito à cultura de massa, uso calca jeans, tênis da Nike, tomo Coca-Cola e vou ao McDonald’s. E como todo mundo, cansei de atualizar. Não tinha tempo, inspiração, paciência e desisti. Esta é outra tentativa.
Por que tentar de novo?! Ora, por que não?
As idéias não são originais, os pensamentos recorrentes e as generalizações inevitáveis. Mais cedo ou mais tarde vou cansar de escrever e vou abandonar isso aqui. Prometo. Até lá, tenham paciência!