quinta-feira, março 17, 2005

Os camisas brancas

Todas as vezes que vou à dentista, lembro que o Renato Janine Ribeiro escreveu uma vez que essa é a única profissão em que existe um superávit (a palavra está mesmo na moda) entre o falar e o ouvir. Mas não encontro outra para definir minha relação com essa categoria profissional: déficit.
O tratamento geralmente custa uma fortuna e quando não se é assíduo, os problemas acumulam, potencializando seu prejuízo bucal e financeiro. E nove anos sem uma visitinha ao consultório também não é uma marca da qual alguém possa se orgulhar.
Tenho medo de dentistas. Na verdade, de todas as profissões que têm o uniforme de cor branca como padrão e não consigo entender sem esforço como alguns homens mantêm fantasias eróticas envolvendo profissionais da área de saúde, enfermeiras em especial.
Mas ultimamente, esse pavor tem sido superado por outro: tenho muito medo do que essas pessoas pensam. Costuma-se lamentar que as únicas pessoas que sabem como governar o país estão sempre muito ocupadas dirigindo táxis ou cortando cabelos, mas não devemos desprezar as possibilidades de um governo liderado por profissionais da área de saúde.
O governo perseguiria os consumidores de gorduras saturadas, álcool, cigarro, café, doces e outros combustíveis. Shopping Centers se transformariam em grandes farmácias. Móveis e colchões seriam queimados em praça pública pelos agentes do Ministério da Ortopedia. As FF (Falanges Fisioterapeutas) encurralariam os velhinhos nos supermercados e os obrigariam à extenuantes exercícios motores. Animais de estimação seriam separados de seus donos e adotados secretamente pelos veterinários para fins inomináveis. Os hipocondríacos saudariam o novo regime mas não ficariam até muito tarde na rua por causa do sereno. Acessos de espirro seriam considerados atos de subversão e a gripe tratada como questão de segurança nacional. Os presos políticos seriam submetidos à tortura mais vil: sessões de terapia gratuita. Receita Federal ganharia novo significado.
Tempos muito difíceis.

2 comentários:

Anônimo disse...

Cara, isso tá ficando bão. Tem coisa melhor que ler um texto na internet e dar risada, quase cuspindo no monitor? hahhahaaaaa

Anônimo disse...

Ótimo texto!!! Eu também tenho medo do que as pessoas pensam... E adorei a frase do Veríssimo. Ah, e vc não sabe quem eu sou, cheguei no teu blog pelo blog da renata. É isso aí!