sábado, março 26, 2005

Mocinhos e Bandidos

O TV Pirata exibia um quadro muito engraçado sobre nossa antiga capacidade de fabricar heróis de ocasião. Sempre que um personagem estava em perigo ou passava por alguma dificuldade (num deles, a Cláudia Raia não conseguia fazer seu filho comer uma tigela de mingau), o “Delegado Tuma” (Guilherme Karan, hilário) era invocado, como o Shazam, para resolver a questão. Naquela época, Romeu Tuma chefiava a Polícia Federal e personificava o modelo de super-herói brasileiro para aqueles anos difíceis marcados pela hiperinflação.
Infelizmente, a safra de heróis vem se esgotando. Se me lembro bem, a última tentativa foi malograda por dois estrangeiros: o irlandês maluco e o grego bonachão. O governo até tentou com a campanha do “não desiste nunca” mas não colou. Agora, estamos especialistas em criar os vilões.
O assustador na eleição de Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara ultrapassa seu significado imediato que é o fortalecimento da direita mais conservadora num suposto governo de esquerda (aspas, aspas!). Num país católico e de políticos extremamente personalistas, uma figura tosca como a encarnação do mal supremo é uma idéia extremamente tentadora porque desobriga todo mundo de pensar a respeito dos problemas que nos afligem.
É tudo culpa do Dr. Fu Manchu que tivermos à mão. Sem ele, seria mais fácil. O país seria muito diferente, menos desigual, mais justo, solidário, com direitos garantidos a todos e outras banalidades que povoam os sonhos de meia-dúzia de ingênuos que não aceitam o maniqueísmo nacional porque no fundo gostam de complicar as coisas.

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