quinta-feira, maio 05, 2005

Espírito nacional

Era o Drummond quem achava bunda a palavra mais bonita da língua portuguesa? Não lembro. Mas a esfinge brasileira é mesmo a bunda. Se entendermos o que é a bunda e exatamente em que circunstâncias funciona, descobriremos a essência da brasilidade. Estou falando da bunda nacional, claro.
Nossa ligação com a bunda, para variar, tem origem colonial. Um país dessa dimensão e com as costas que temos logicamente teria uma bunda proporcional. Esse superlativo anatômico do país foi cobiçado por outras nações européias até a independência.
Quando nos transformamos numa nação, ela deixou de ser um predicado físico e transformou-se num atributo moral. Momentos de ímpeto nacional necessitam de virtudes compatíveis – bunda mole, não. Aos poucos, tornou-se um símbolo nacional exibido nos rostos de cada um dos brasileiros.
Há alguns anos, o Ziraldo editou uma revista chamada Bundas justamente para fazer graça e oposição à revista Caras. Infelizmente, Ziraldo talvez não tenha percebido que bunda no Brasil é situação e talvez por isso a revista acabou cedo. Música brasileira para vender também tem que falar dela senão encalha.
Por isso, quando o Lula diz que o brasileiro é “incapaz de levantar o traseiro da cadeira” e mudar de banco que cobra juros escorchantes, por meio de um eufemismo (traseiro), o presidente procura despertar o país. E para isso volta a falar de bunda. Aquela que nos é sempre requisitada nos momentos de crise.

Um comentário:

Anônimo disse...

A PARTE QUE NOS CABE...

É... por isso fiquei preocupado quando, 2 anos atrás, ouvi dizer que o Lula pretendia fazer um "governo de conciliação, dialogando com todos os setores do país, de cabo a rabo".
É que nesse tipo de situação, como é sabido, a contribuição de banqueiros e empresários costuma ser o cabo.