quinta-feira, maio 26, 2005

Oliver Sacks

O neurologista e escritor Oliver Sacks esteve no Brasil para uma palestra e concedeu entrevista publicada no Estadão, domingo passado. Trechos...


A maioria das síndromes e doenças sobre as quais o senhor trata em seus livros é incurável. Onde o senhor busca forças para continuar a dar apoio a essas pessoas sem acreditar numa força sobrenatural capaz de ajudá-las? A ciência lhe dá estímulo suficiente para continuar a luta?
São três perguntas numa só. Em primeiro lugar, sendo doenças incuráveis, é nossa obrigação lutar para melhorar a qualidade de vida desses pacientes. A situação, hoje, é bem melhor que há 20 anos, quando se sabia pouco sobre síndromes incomuns. Não vejo como Deus possa ajudar nisso. De qualquer modo, trabalho com religiosos, católicos e judeus, e respeito suas crenças, mas eu, particularmente, não sinto necessidade de acreditar numa entidade sobrenatural. Para mim, o natural basta.
O senhor se considera um misto de cientista e poeta? Que papel tem a literatura em sua ciência?
Não sei como me autoclassificar, mas não seria pretensioso a ponto de dizer que sou poeta. A linguagem literária é muito importante para mim. Não consigo separar o ato de escrever do de pensar. Às vezes não sei o que estou sentindo até colocar no papel minhas impressões. (...)
Há um filme chamado Pi, dirigido por Darren Aronofsky, que parece ter como modelo o senhor, um inveterado fã da tabela periódica. É a história de um homem afogado em combinação numérica e periodicidade.O senhor acredita que o mistério do universo possa ser desvendado com a ajuda de uma tabela periódica de elementos relacionados uns com os outros?
(Tirando a carteira do bolso e mostrando a cópia de uma tabela periódica) Bem, em se tratando de matéria, é natural que essa tabela faça algum sentido. Naturalmente, estamos falando de matéria visível e não de antimatéria. Imagino que nem o melhor dos computadores possa desvendar esse mistério em trilhões de anos, mas isso não me faz desacreditar da ciência. Não creio que vamos chegar um dia à solução de todos os problemas ou esgotar nossa curiosidade. Tampouco que nossa criatividade chegue ao fim. Não, não vamos nos transformar em vacas. Pelo menos é o que espero.

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