quarta-feira, junho 08, 2005

No conto

A Ovelha Negra, Italo Calvino relata a história de um país muito curioso onde todos os seus habitantes eram ladrões e ganhavam a vida roubando uns aos outros. Todas as noites, os ladrões saíam de suas casas para roubar e quando voltavam, encontravam suas residências saqueadas. Trapaceavam no comércio dos produtos do roubo. O governo roubava os súditos, que por sua vez, sonegavam impostos. E viviam em paz pois não havia diferenças entre eles. Até que um dia apareceu um homem honesto.
O homem honesto não saía de casa para roubar e justamente por isso, acabava impedindo que alguém a roubasse. Ou seja, no dia seguinte, uma família ficava sem ter o que comer. Sabendo disso, então, o homem honesto passou a se ausentar de sua casa. Quando voltava, sua casa estava devidamente arrombada. Seus bens duraram uma semana.
Tal comportamento gerou um grande problema porque sempre que alguém voltava de um roubo, descobria sua casa intacta. Gradativamente, os que não eram roubados se tornaram ricos e não queriam mais roubar. E também se ausentavam de suas casas aumentando a confusão, pois os ricos logo perceberam que se continuassem sem roubar ficariam pobres. Então, contrataram os pobres para roubar por eles. Como ainda viviam num país de ladrões, também roubavam uns aos outros nos contratos de trabalho. E como sempre os ricos ficavam cada vez mais ricos e os pobres mais pobres.
Os ricos mais ricos não precisavam roubar e mandavam roubar apenas para continuarem ricos. Se parassem de roubar, ficariam pobres porque seriam roubados pelos pobres. Por isso, contrataram os mais pobres para defenderem suas posses dos pobres, instituindo a polícia e as prisões. No antigo país dos ladrões não se falava mais em roubar ou ser roubado, mas de ricos e pobres.
O homem honesto morreu de fome.

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